Os unicórnios não são apenas criaturas mitológicas das histórias de encantar. No mundo empresarial é o nome dado a empresas jovens com elevado potencial de crescimento e avaliadas em pelo menos mil milhões de dólares.

Como passaram estes projetos de empresa idealizados numa noite de verão a avaliações estratosféricas? Para além da tecnologia disruptiva e da dinâmica organizacional, o verdadeiro fator diferenciador é a capacidade de durante anos darem prioridade à manutenção de uma elevada componente de investimento, deixando para segundo plano a geração de lucros.

Vejamos o caso da Amazon, a retalhista de A a Z, atualmente avaliada em 383 mil milhões de euros. Foi uma empresa que assumiu, durante mais de uma década, que o seu objetivo não era ter rentabilidade no curto prazo, mas fazer um investimento em infraestruturas tão significativo que lhe permitisse obter um estatuto de monopólio quase total à escala global.

Ou seja, ser uma empresa capaz de criar barreiras à entrada significativas, através de uma marca indisputável, de uma cadeia logística absolutamente inimitável, de relações privilegiadas com fornecedores, da sua capacidade de estudar clientes e de identificar quais são os precisos interesses de cada um deles, aliada a uma estratégia de promoções direcionadas a tais clientes, consoante esses mesmos interesses. Foram realizados investimentos irreplicáveis de biliões de dólares para que a Amazon alcançasse esse estatuto, tornando-se numa marca de referência.

Durante muitos anos, este objetivo de construir barreiras à entrada colocou a Amazon numa posição de liderança difícil de aceder, só comparável à Microsoft nos sistemas operativos e à Google nos motores de pesquisa. No fundo, ser um player dominante numa categoria muito clara do negócio digital.

Com este tipo de estratégia conquistou uma base alargada de clientes e com pequenos incrementos de investimento conseguiu replicar funcionalidades e capturar utilizadores aos seus concorrentes. Sintomático desta situação foi o recente pedido de falência nos Estados Unidos e Canadá por parte da cadeia de brinquedos Toys “R” Us, assumindo a sua incapacidade em competir numa categoria de preços tão otimizada.

Se olharmos para outras startups, como a Airbnb, a Facebook ou a portuguesa Farfetch, é exatamente isto que tentam fazer: investir massivamente, tornar-se numa referência nas respetivas áreas de negócio e tentar estar na moda, sempre.