No próximo domingo, o Partido Socialista obterá um resultado eleitoral que, se pudesse ser traduzido em mandatos parlamentares, lhe daria maioria absoluta. Ainda que se trate de  eleições para os órgãos do poder local, e portanto as questões  locais devessem  prevalecer, a verdade é que os temas discutidos foram basicamente de política nacional.

Assim sendo é legítimo extrapolar as eleições locais para a realidade nacional. Estou convencido que os eleitores, sobretudo os dos grandes centros urbanos, darão apoio aos candidatos do Partido Socialista. As excepções social-democratas apenas servirão para tornar o quadro ainda mais impressivo. Não é necessário ser especialista em Ciência Política, comentarista encartado ou sociólogo de comportamentos eleitorais para concluir que o povo está contentíssimo com a governança socialista. E daí ter retribuído em apoio eleitoral  o desvelo recebido. É claro que a abstenção será grande. Talvez a maior. Mas que ninguém se iluda: boa parte dessa abstenção, se votasse, seguiria o mesmo padrão dos não abstencionistas.

O entusiasmo socialista está à vista de todos. Crédito barato, reposição de salários, bica aberta para os tarefeiros entrarem no Estado, bolha imobiliária crescente, redução do deficit para valores históricos, crescimento valente do PIB, funcionários públicos satisfeitos, carrinhos novos a circular pelas estradas e a garantia dada pelo ministro das Finanças de que  a dívida soberana vai reduzir-se como nunca. Mas o mais significativo foi a história da saída do “lixo”. Esta última suscitou reacções tremendas. Houve um jornal, dito de referência (o que quer que isso seja) que lhe deu meia página da capa em letras garrafais. Aterrasse um 747 na Avenida dos Aliados e o título não seria maior. Estamos pois perante um animado estado de espírito que encara o primeiro-ministro como uma espécie de milagreiro. E todos sabemos como o povo português é dado a milagres.

Dirão alguns, certamente os mais pessimistas e que se recusam a ver as evidências, de que tal estado de espírito é ilusório e que basta pôr a mão no bolso e respirar o ar circundante para concluir que tudo está na mesma ou  pior agora do que há dois anos. E esse histerismo do fim do lixo ou da redução da dívida soberana não passam de fantasias retóricas para uma economia que continua a pedir esmola (na expressão de Luís Pacheco).

E haverá mesmo meia dúzia que considera  Pedro Passos Coelho e até acha que, heresia das heresias, não fosse ele e tínhamos ido todos pelo buraco do ponto. E menos ainda asseguram que o momento que se vive, após Pedrógão e Tancos,  é dos mais vergonhosos (o adjectivo é comedido) do pós 25 de Abril. Mas esses são a minoria das minorias, para mais reaccionários de alto coturno, a tal ponto que paulatinamente se ouvem cada vez menos. Não porque não queiram emitir as suas opiniões, mas porque dificilmente encontram alguém que os oiça. Como aliás as eleições de domingo se encarregarão de confirmar.  E se assim não for daqui a dois anos há mais…