Nos últimos tempos temos assistido a uma entrada em ‘força’ de promotores espanhóis. E ainda este mês, A Vía Célere, companhia imobiliária especializada na promoção, desenvolvimento e gestão de ativos residenciais, anunciou que vai investir em Portugal. O primeiro projeto arrancará em 2018, prevendo a empresa promover cerca de 46.500 m2 de área residencial e comercial na zona de Oeiras, com a construção de 276 apartamentos.
O terreno onde irá ser promovido o empreendimento em Oeiras pertencia à empresa também espanhola Dospuntos, que foi integrada na Vía Célere, já que ambas as empresas pertenciam ao mesmo fundo: a Värde Partners. Segundo Juan Antonio Gómez-Pintado, presidente de Vía Célere, este “é o momento adequado para avançar com o desenvolvimento de novos projetos em Portugal. Dado o seu crescimento económico sustentado e a crescente confiança e capacidade de compra dos seus consumidores, assim como um contextode maior acesso ao financiamento e às baixas taxas de juro, o mercado luso representa uma oportunidade para o investimento imobiliário”.
Também neste mês, o Andbank Espanha lançou um produto de investimento imobiliário – o Albatross Iberian Re Renovation Fund I – com o objetivo de reunir 50 milhões de euros para investir em Portugal e atingir uma rentabilidade na ordem dos 12%, informou em comunicado aquela instituição de crédito no país vizinho. O fundo, aberto a investidores qualificados dispostos a subscrever uma quantia mínima de 250 mil euros, destina-se a investimento em imobiliário residencial prime em Lisboa. Para a operação, o Andbank associou-se à sociedade imobiliária portuguesa Quantico e à gestora de investimentos Albatross.
De facto, Portugal está na ‘rota’ dos investidores espanhóis e não só. Hugo Santos Ferreira, secretário-geral da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários – APPII, revela que mais de 30% dos associados são já investidores estrangeiros, desde os grandes fundos de investimento imobiliário ou investidores institucionais que investem geralmente centenas de milhões no nosso país, até pequenas empresas com tickets de investimento mais baixos e até alguns investidores individuais como os franceses, os brasileiros, etc. O responsável confirma no entanto o crescendo de interesse de promotores espanhóis. “Temos, por exemplo, a honra de contar na APPII com uma das principais SOCIMI espanholas (os REITs espanhóis, i.e. sociedades imobiliárias cotadas em bolsa), ou mesmo com um dos principais promotores imobiliários espanhóis”, explica.
Hugo Santos Ferreira adianta ainda que a APPII tem sido defensora de um mercado imobiliário ibérico e, “por isso, temos vindo a estreitar relações com os nossos homólogos espanhóis, entidades com quem temos hoje uma grande proximidade e colaboração intensa, bem como temos vindo a apostar muito em setores como o de Madrid e Barcelona, cidades onde nos deslocamos com preferência para promover o nosso mercado imobiliário e captar novos investidores”.
O secretário-geral da APPII salienta o contentamento com esta dinâmica e lembra que, no passado, no setor imobiliário, se assistiu à vinda de muitos estrangeiros, desde a vaga dos suecos à vaga dos brasileiros, etc., “mas penso que será a primeira vez que se regista a pujança dos dias de hoje e de tantas e tão diversificadas geografias. O setor imobiliário está, de facto, a viver um momento muito positivo”.
Destino de investimento de primeira linha
O momento é de viragem, na opinião de Hugo Santos Ferreira: “Estamos no caminho (certo) de passarmos de um destino alternativo e de segunda escolha de cidades de média dimensão em Espanha, para nos tornarmos num destino de investimento de primeira linha. Penso que este é hoje o nosso principal desafio em matéria de captação de investimento. Assim continuemos a dar todas as condições que os investidores precisam para continuar a acreditar nós, sendo muito importante a estabilidade e previsibilidade política e fiscal e, mais recentemente, o facto de importarmos os veículos de investimento comummente aceites e usados um pouco por todo o mundo, como sejam os REITs (Real Estate Investment Trusts) de inspiração americana e já utilizados em Espanha, ou os LLPs (Limited Liability Partnerships), de inspiração anglo-saxónica”.
O responsável não está preocupado com a crescente chegada de promotores estrangeiros e admite que esta ‘vaga’ tem incentivado ao surgimento de muitos promotores portugueses, quer ao nível dos profissionais – em 2014 e 2015 o mercado era feito quase na maioria por empresas estrangeiras e não havia ainda procura interna, sendo que em 2016 se assistiu ao regresso em força dos profissionais portugueses que relançaram uma série de projetos importantes –, quer ao nível dos compradores ou consumidores finais, em que primeiro se registou uma larga maioria de estrangeiros compradores ou investidores, para agora se registar um grande efeito de contágio nos portugueses, que querem voltar a comprar imóveis e onde o financiamento bancário para habitação tem crescido todos os dias.
“O facto de mais promotores conseguirem colocar mais oferta no mercado tem ajudado a ‘arrefecer’ um pouco os preços nas zonas mais ‘aquecidas’. Assim, venham mais promotores de construção nova, nacionais ou estrangeiros, e venham mais projetos para a classe média, dentro e fora dos centros das grandes cidades”, conclui.
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