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“Na Síria”

Agatha Christie é conhecida pelas quase cem histórias de crime e mistério que escreveu, sendo particularmente famosas as personagens do detetive Hercule Poirot (belga e não francês, como muitos pensam e ele não se cansa de corrigir, mesmo quando confrontado com um grupo tão cosmopolita como o de “O Crime no Expresso do Oriente”) e da simpática e acutilante (mas algo bisbilhoteira) dona de casa Miss Marple.
Marta Teives
13 Outubro 2017, 11h20

Mas há outra faceta da escritora inglesa que lhe granjeou um sucesso de que os seus editores muito duvidaram na altura e é essa parte da sua vida privada que Agatha Christie revela em “Na Síria”, editado em português pela Tinta da China.

Casada em segundas núpcias com o arqueólogo Max Mallowan, que conhecera em Ur – hoje, no Iraque – e que era 14 anos mais novo, relata neste livro as viagens à Síria realizadas nos anos 30 do século passado, em que o acompanhou nas suas escavações, e que lhe terão proporcionado material de sobra para muitos dos seus livros.

O livro começa pelas deslocações às lojas e armazéns londrinos para efetuar as compras necessárias à viagem, do chapéu de aba às canetas de tinta permanente, e de imediato se percebe o extraordinário humor da autora, que estará patente até ao final do livro. Sobressai também um tom que hoje se considera politicamente incorreto, mas que não pode ser lido fora de contexto, a não ser que se queira limpar o passado para o encaixar no modo de pensar contemporâneo. E se Agatha Christie é quem mais ri de si própria, o leitor não lhe fica muito atrás. Depois de encher as malas – e de o marido lhe pedir que se sente em cima das dele, pois caso contrário não conseguirá fechá-las – partem para o Médio Oriente e dedicam-se a encontrar, catalogar e empacotar peças que terão como destino o Museu Britânico e o Museu de Alepo, sendo provável que estas últimas estejam agora espalhadas pelo mundo ou, na pior das hipóteses, totalmente destruídas devido à guerra atroz que continua a assolar a região.

 

 

Mas estas viagens não foram um caso isolado; Agatha Christie acompanhou o marido ao longo de trinta anos, colaborando com os fotógrafos, dando uma ajuda na catalogação das peças encontradas e criando, tanto quanto possível, uma espécie de lar à imagem e semelhança do que deixaram no país de origem, algo em que os britânicos são exímios. Nem que para isso seja preciso recorrer aos préstimos de um gato para caçar “os ratos a fazerem exercício físico e desportos ao ar livre em cima de nós”, numas casas alugadas a famílias arménias.

Agatha Christie morreu em 1976, com 85 anos, e continua a ser das autoras mais lidas em todo o mundo.

Sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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