Em recente evento, promovido por organização financiadora de startups, ouvi pretensão de que a decisão de atribuição de incentivos deveria, também, ser tomada com base numa efetiva avaliação da qualidade da gestão das empresas a financiar.
Avaliar a qualidade da gestão é desiderato histórico de empresas e academia. Desde logo, avaliar a qualidade da gestão pressupõe resultados da gestão e, classicamente, a avaliação foca nos resultados económico-financeiros realizados. A extensão desta avaliação a indicadores não financeiros, obra sobretudo da década de 80 do século passado, procurou introduzir outras dimensões mensuráveis, tais como: mercado, clientes, processos e recursos. Ambicionou identificar os drivers (causas) dos resultados, os por vezes denominados fatores leading, que conduzem aos (desejados) resultados futuros. Gerir sobre os fatores leading permite aos gestores antecipar ações e influenciar diretamente a criação futura de resultados.
Algum trabalho de investigação da academia, mais recente, procurou inquirir sobre práticas de gestão e comparar da sua qualidade entre empresas, indústrias e países. Portugal é incluído neste estudo, já diversamente citado e utilizado. As práticas de gestão inquiridas a gestores, em 35 países, incluem: a atitude regular e integral dos gestores sobre a melhoria contínua; a definição, comunicação e monitorização regular e formal de objetivos (financeiros e não financeiros; de curto e médio prazo); as recompensas pela realização dos objetivos; o planeamento e rastreamento disciplinado das ações de mudança quando necessárias; a atração e promoção do talento no capital humano; e a autonomia e níveis de decisão dos gestores profissionais.
As perguntas realizadas aos gestores incluem um guião de ‘provocações’ tais como: quantas reuniões com os colaboradores para análise de resultados cancelou porque tinha de dar atenção a um problema de produção? Quantos colaboradores têm conhecimento formal sobre quais as metas estratégicas da organização? Quantas promoções de colaboradores realizou no último ano, com base num plano formal de desenvolvimento de talento? O inquérito está disponível em worldmanagementsurvey.org e pode ser preenchido pelo leitor, com o ‘prémio’ de comparar o resultado da sua organização com as restantes em Portugal e no mesmo setor.
É uma avaliação? Será, seguramente, uma avaliação possível. Releva robustez econométrica sobre a correlação positiva entre a qualidade da gestão e os resultados. Contribuirá, como base, para uma melhor aferição, quantitativa, de quem entrega incentivos financeiros. Ademais, talvez mais relevante, contribuirá para uma maior focalização na qualidade da nossa gestão, a tal leading de valor futuro! Fica a sugestão.