Bond*? Eu só conheço o James Bond! Eis a resposta que o Vice-Presidente, actualmente responsável pela tesouraria de um dos mais importantes bancos mundiais, deu quando pela primeira vez na sua vida ouviu este termo. Contou-me que tinha nascido no seio de uma família rural pobre do interior da China e, quando este episódio aconteceu, tinha acabado de fazer 21 anos de idade.
Este é um dos exemplos paradigmáticos daquilo que considero ser a bondade virtuosa da globalização em todas as suas múltiplas vertentes e que, atrever-me-ia a dizer, transformou o mundo nas duas últimas décadas, de uma forma que se assemelha ao impacto dos descobrimentos portugueses e espanhóis dos séculos XV e XVI. A globalização permitiu que centenas de milhões de pessoas dos chamados países emergentes saíssem da pobreza extrema e escravatura, tivessem pela primeira vez acesso à educação e a serviços básicos de saúde e, finalmente, impulsionou a implementação de regimes políticos mais próximos das democracias ocidentais, com maiores liberdades e respeito pelos direitos humanos. E sei bem do que falo, porque faz parte do meu quotidiano profissional e conheço a realidade destes países.
Assim sendo, torna-se muito difícil compreender por que razão a dita esquerda revolucionária, confortavelmente acantonada nos países desenvolvidos, tem ferozmente combatido a globalização, que, repito, tem beneficiado os mais desfavorecidos do mundo. Sim, é verdade, a globalização teve impactos negativos nas economias ricas, deslocalização de muitas manufacturas, perda de postos de trabalhos, redução do valor do trabalho manual e menos qualificado. Mas também é verdade que as economias europeias e norte-americana não têm conseguido adaptar-se, porque estão politicamente cativas dos chamados direitos adquiridos, que impossibilitam qualquer tipo de reforma estrutural.
E aqui chegados, temos que os cidadãos da maior democracia do mundo nos surpreenderam ao eleger uma administração ultramontana e fundamentalista, acérrima defensora de uma política isolacionista. Ainda na semana passada, o presidente Trump anunciava a saída dos EUA da UNESCO e empreendia iniciativas que conduzirão ao enfraquecimento das instituições e organizações multilaterais, criadas depois da II Guerra Mundial, como instrumentos promotores de maior justiça social e económica à escala planetária.
Hoje, temos uma surpreendente aliança anti-globalização onde a direita mais conservadora e anti-liberal vai de mão dada com os comunistas e a esquerda revolucionária. Quem diria…?
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.
(*título de dívida conhecido em português por obrigação)