As imagens fortes na Catalunha traduzem mensagens e significados muito mais do que as cores garridas das bandeiras iguais – umas ao alto e outras horizontais – dos independentistas e dos soberanistas. O processo complexo que se tem desenrolado mesmo à nossa frente tem perigosas implicações para as soberanias europeias e consolidação do projeto europeu.

A vencer a separação, logo renascem os ímpetos nacionalistas que têm andado adormecidos e que serão embalados devidamente pelos populismos que, projetando demagogia, não ligam à realidade mas antes a um romantismo serôdio que atrai os extremos e afastam os princípios.

Estes nacionalismos que antes terçaram posições na Escócia, procuram parceiros na Irlanda e têm irmãos na Bélgica ou em Itália. Estes movimentos que encontram resguardo em posições simplistas e oportunistas de apontar o negativo têm merecido atenção de opinião pública e publicada, e que já produziu alguns resultados eleitorais.

Mesmo sem real sustentação popular, canalizam o descontentamento acomodado e assentam a sua ação no princípio de regresso a uma organização política própria da Idade Média, que serve os adversários da construção de uma Europa forte, unida e determinada em afirmar o seu espaço de influência no mundo.

Em grande medida estes movimentos derivam da perda de sentido ideológico das sociedades atuais e da governação à vista. O consumismo político que se esgota nas medidas do quotidiano faz com que alguns projetos políticos assentem no imediato e nunca a médio ou longo prazo: “Quem vier a seguir que resolva”.

Deslumbra o axioma de que em democracia “vale tudo”. Mas não pode ser verdade. Em democracia há lugar aos princípios, ao estado de direito, ao reconhecimento dos direitos individuais.

A perda de referências e valores é uma constante e nem a defesa de causas nos transmite segurança e estabilidade quanto à autenticidade de quem as promove. Sentimos crescentemente o vazio e convivemos com o receio de um qualquer novo movimento que nos arraste para o desconhecido.

Ninguém está imune a estas situações. Por isso, é quase patético ver como partidos fazem cambalhotas das suas posições de véspera, principalmente quando antes de oposição e que alienam todo um património de coerência, em nome do poder.

Estas imagens poderíamos vê-las no “Syrisa” grego tão inspirador do Bloco de Esquerda ou mesmo no PCP, quando negoceiam o Orçamento do Estado, prontos para aceder ao que rejeitavam. O PS, esse, balança entre satisfazer as suas clientelas e os seus clientes de solução governativa. Pagaremos com isso. Mas “quem vier a seguir que resolva”.