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Na Senda de Fernão Mendes. Percursos Portugueses no Mundo

É com este poema do grego Konstantínos Kaváfis (de que aqui se reproduz apenas a primeira estrofe), numa tradução de Jorge de Sena, que Guilherme d’Oliveira Martins começa “Na Senda de Fernão Mendes. Percursos Portugueses no Mundo”, uma edição da Gradiva.
3 Novembro 2017, 11h30

“Quando começares a tua viagem para Ítaca,
reza para que o caminho seja longo,
cheio de aventura e de conhecimento.
Não temas monstros como os Ciclopes ou o zangado Poseidon:
Nunca os encontrarás no teu caminho
enquanto mantiveres o teu espírito elevado,
enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo.
Nunca encontrarás os Ciclopes ou outros monstros
a não ser que os tragas contigo dentro da tua alma,
a não ser que a tua alma os crie em frente a ti.”

Na primeira parte do livro, narra diversas viagens que fez no âmbito da sua presidência do Centro Nacional de Cultura, sob o tema “Os Portugueses ao Encontro da sua História”. De Minas Gerais, no Brasil, no encalço de Vitorino Nemésio e da sua “ilusão de um Portugal transplantado” e também no rasto das missões jesuíticas, a Pequim, recordando a assinatura, em 1692, de um extraordinário “Édito da Tolerância”, resultado da estreita colaboração entre missionários jesuítas, letrados e académicos chineses. De caminho, recorda Moscovo e a sua rede de metropolitano onde, num dos átrios da estação de Bielorusskaya, há uns painéis de azulejos da autoria de Graça Morais; ou ainda a “natureza em estado puro” que é São Tomé, ilha onde nasceu Almada Negreiros (mais precisamente, na Roça Saudade, onde existe hoje um museu que lhe é dedicado).

A segunda parte é dedicada aos portugueses que tão bem descreveram o seu país natal, como Almeida Garrett de “Viagens na Minha Terra”, o poeta e dramaturgo a quem Saramago dedica o livro “Viagem a Portugal”, chamando-lhe “mestre de viajantes” e que dá nome à principal artéria do Chiado lisboeta; Chiado esse que tão grande lugar ocupa na obra de Eça de Queiroz. Destaque também para Manuel Teixeira-Gomes e o seu périplo de comboio até Beja, seguido da viagem até Mértola e, depois, rio Guadiana abaixo até Vila Real de Santo António – viagens nesse Algarve longínquo, ao cabo das mais de trezentas curvas da serra do Caldeirão, a caminho de Silves, outrora a Bagdade do ocidente; e para a Coimbra de Antero e a dimensão simultaneamente atlântica e mediterrânica de Portugal e dos portugueses, tão bem caraterizada por Orlando Ribeiro.

São muitas e sempre fascinantes as referências do ex-Presidente do Tribunal de Contas e, atualmente, Administrador Executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, nesta sua senda dos portugueses que calcorrearam o mundo.

A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante

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