O Banco de Portugal (BdP) mantém inalteradas as projeções de crescimento de 3,9% da economia portuguesa este ano, apesar do confinamento, e vê o PIB a crescer mais em 2022, esperando que o nível de atividade económica de 2019 seja alcançado em meados do próximo ano. O regulador bancário antecipa uma elevada volatilidade nas variações homólogas trimestrais do PIB este ano e só num cenário adverso é que vê a economia a crescer 1,6%.
“As perspetivas para a economia portuguesa continuam a ser influenciadas pela evolução da pandemia. Ao longo do período 2021-23 projeta-se um crescimento económico de 3,9%, 5,2% e 2,4%”, refere o Boletim Económico de março do BdP publicado esta sexta-feira.
Em dezembro, a instituição presidida por Mário Centeno projectava uma expansão do PIB de 3,9% este ano, seguido de um crescimento de 4,5% em 2022 e de 2,4% em 2023. Para 2021 e 2023, o regulador mantém no cenário base as projeções anteriores, mas vê o crescimento da economia a subir mais 0,7 pontos percentuais (p.p.) do que no anterior relatório em 2022, apesar da recuperação iniciada no segundo semestre de 2020 ter sido temporariamente interrompida. Por outro lado, espera que o impacto do atual confinamento seja inferior ao observado no segundo trimestre do ano passado, assumindo que “as restrições serão gradualmente levantadas a partir do segundo trimestre” deste ano.
Espera uma recuperação “robusta” da atividade económica, mas alerta, contudo, mais uma vez que a recuperação irá ser desigual entre setores. “A atividade industrial tem sido mais resiliente, antecipando-se uma recupe- ração mais rápida. A recuperação dos serviços e, em particular, nas atividades ligadas ao turismo, cultura e entretenimento será mais gradual”, refere.
No cenário base, o regulador mostra-se confiante numa recuperação da atividade económica entre 2021 e 2023, “assente no sucesso do combate à pandemia à escala internacional, no reforço da confiança e no apoio das medidas de política nacionais e supranacionais”. Ainda que antecipe o nível de atividade económica pré-pandemia seja alcançado em meados de 2022, “existe uma perda face ao que se teria verificado na ausência da pandemia”.
“A crise levou à interrupção da acumulação de fatores produtivos, incluindo capital humano, e à redução da e ciência na utilização dos mesmos, motivada pelas preocupações com a disseminação e como combate ao vírus. Existem também custos de realocação dos fatores produtivos associados ao impacto setorial diferenciado. Adicionalmente, o aumento do endividamento dos setores público e privado, já com pontos de partida elevados, colocará importantes desafios à economia portuguesa”, salienta o BdP.
O governador do BdP, Mário Centeno, explicou que se “até aqui todas as análises centravam os riscos na capacidade de controlo da pandemia”, atualmente existem “outros riscos”, como a taxa de poupança das famílias e a resiliência das empresas.
Face às incertezas provocadas pela pandemia, o BdP inclui dois cenários alternativos. No cenário favorável, que prevê o melhor controlo das infeções e o levantamento mais rápido das medidas de contenção, o PIB cresce 4,7% em 2021, 5,4% 2022 e 2,3% em 2023, atingindo logo no início de 2022, o valor pré-pandemia. No cenário adverso, que assume uma disseminação mais gradual da vacina e o aparecimento de novas variantes que se podem traduzir em novos períodos de confinamento e restrições, a economia cresce 1,6% e 3,2% este ano e em 201 e 3,2% em 2023.
Impacto do terceiro confinamento
Apesar de antecipar volatilidade nas variações homólogas trimestrais, o BdP projeta que a economia portuguesa resistirá ao impacto do novo confinamento, esperando um acelerar do crescimento no segundo e terceiro trimestre.
Assinalando que os dados disponíveis até à data apontam para que a redução da atividade estará “a ser menos severa”, refere que se mantém “alguma diferenciação por componente da despesa e setor de atividade”.
O regulador destaca “a capacidade de adaptação e aprendizagem dos agentes económicos e o enquadramento internacional mais favorável” para “ajudar a explicar o menor efeito do segundo confinamento na atividade.
Recordando que no início de 2021, os Purchasing Managers’ Indexes (PMI) para a zona euro mantiveram uma evolução estável, diz que estes “desenvolvimentos apontam para uma evolução positiva da procura externa dirigida à economia portuguesa, implicando um impacto diminuto do segundo confinamento nas exportações de bens”.
“Nos indicadores de consumo privado e turismo, o impacto deste confinamento é mais significativo traduzindo as restrições sobre a mobilidade dos cidadãos e o encerramento do comércio, restauração e outros estabelecimentos”, refere, dando nota de que “a economia portuguesa tem reagido de forma muito rápida, com quebras significativas aquando do recrudescimento do número de contágios e consequente adoção de medidas de contenção, mostrando capacidade de adaptação ao longo dos períodos de confinamento e em especial quando se inicia a reabertura gradual das atividades económicas”.
E avisa: “este comportamento tende, ainda assim, a ser função da duração dos períodos de confinamento”. Depois de várias semanas do confinamento atual, o indicador de atividade diária da instituição “voltou a apresentar uma trajetória descendente na primeira quinzena de março”, o que sinaliza riscos sobre a capacidade de recuperação da economia face à extensão temporal das medidas restritivas.
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