Em certos setores da sociedade portuguesa, há ainda algum ceticismo relativamente à importância da Web Summit. As críticas incidem em questões que vão desde o deslumbramento tecnológico ao retorno económico do evento, passando pela descrença na viabilidade, competitividade e valor das startups. Existe também quem se limite a valorizar o evento pelas receitas turísticas que produz e pela promoção internacional do país, o que é manifestamente redutor.
A questão mais importante é certamente a do retorno económico da Web Summit, na qual o Estado português investe 1,3 milhões de euros por ano. Ora, sobre o impacto imediato já há dados concretos: em 2016, o retorno direto do evento foi de 200 milhões de euros e, nesta edição, prevê-se que seja de 300 milhões, subida que se justifica pelo aumento do número de participantes. Já o retorno indireto, que é de facto o que interessa ao país, é mais difícil de contabilizar, não só por se tratar de um impacto a médio/longo prazo, mas também por gerar um valor muitas vezes intangível.
A inexistência, por ora, de uma estimativa do retorno indireto não nos impede de analisar o impacto potencial da Web Summit no ecossistema empreendedor português. Relativamente a este ponto, há à partida um conjunto de benefícios óbvios: as conferências com líderes de opinião mundiais, a concentração de talento tecnológico global, a presença de investidores internacionais, a dinâmica de networking entre delegados, a exposição pública de tecnologias e startups inovadoras, a cobertura mediática do evento e a identificação de tendências de futuro. Este conjunto de fatores concorre para a dinamização, capacitação e visibilidade do nosso ecossistema, que, durante a Web Summit, está efetivamente no centro do empreendedorismo tecnológico mundial.
Antes de mais, a Web Summit produz efeitos ao nível do mindset. Um evento tecnológico desta envergadura, com tão grande projeção mediática e sobretudo com oradores tão vibrantes reforça a cultura empreendedora em Portugal, designadamente entre as novas gerações. Para jovens ainda em fase de indefinição profissional, é motivador a realização do evento em Portugal e muito inspirador assistir online ou, para os mais felizardos, in loco, às diferentes conferências da Web Summit. Estou certo de que, depois desta edição, muitos jovens portugueses terão vontade de adquirir competências tecnológicas e criar startups inovadoras.
Este lado inspiracional é também importante para quem já é empreendedor. O ambiente que se gera na Web Summit e a pertinência das conferências podem ajudar muitos jovens empreendedores a encontrar a estratégia certa para os seus negócios, funcionado o evento também como um espaço de coaching e mentoria. Sei, por experiência própria, que se aprende muito na Web Summit, não só sobre negócios e tecnologia mas também sobre os grandes desafios da contemporaneidade, sendo disso exemplo a conferência de Al Gore.
Por fim, a Web Summit permite às startups portuguesas o contacto com investidores internacionais, muitos dos quais não viriam a Portugal se não fosse o evento. Nesta edição foram acreditados mais de 1.500 investidores, responsáveis por uma carteira de investimentos da ordem dos 500 mil milhões de euros. O acesso a estes investidores pode ser um primeiro e determinante passo para a alavancagem de empresas portuguesas com potencial. Mais: este tipo de investidores não representa só a entrada de capital de risco nas startups mas também, e tão ou mais importante, a transmissão de experiência empresarial e de conhecimento especializado aos fundadores dos negócios. Trata-se de verdadeiro smart money.
Pude, aliás, verificar o genuíno interesse de alguns destes investidores por 25 startups portuguesas de crescimento exponencial que a ANJE, a Building Global Innovators e a EIT Digital reuniram no Web Summit VIP Dinner, em Lisboa, no passado dia 7. Durante o jantar perpassou a ideia, a meu ver fundamentada, de que vale a pena investir no nosso ecossistema, pois há várias startups com modelos de negócio inovadores, tecnologias disruptivas, produtos diferenciados e talento tecnológico.
Em jeito de conclusão, direi que Portugal precisa de valorizar as qualidades do seu ecossistema junto de investidores internacionais, devendo, para o efeito, acolher e organizar eventos na área do empreendedorismo. É necessário um trabalho sistemático de internacionalização do ecossistema, trazendo ao nosso país mentores e investidores internacionais, de forma a termos massa crítica para fazer crescer as nossas startups. Neste sentido, partilho do desejo de que a Web Summit se realize em Portugal para lá de 2018.