Estes carros ainda só chegaram ao penúltimo nível de autonomia de funcionamento, a que a indústria chama de Level 4. No Level 4, os carros funcionam livremente, sem condutor, mas somente em zonas que foram reconhecidas e testadas intensivamente. Isto quer dizer que antes de serem disponibilizados ao público, estes carros em conjunto (!) fizeram quilómetros suficientes nas estradas do Arizona para já as conhecerem ao centímetro literalmente. No último nível de autonomia (Level 5), os carros não precisam sequer de conhecer e testar as estradas para conseguirem percorrê-las de forma autónoma, segura e eficiente (simplesmente precisam de um mapa com direcções). Segundo os especialistas, é uma questão de poucos anos até atingirmos o Level 5.
Os carros autónomos são só uma das “assustadoras” inovações tecnológicas que estão atualmente a surgir, mas acho que é aquela que terá o impacto mais eminente e disruptivo. Se a internet revolucionou a comunicação, os carros autónomos vão revolucionar a mobilidade… Na minha opinião, esta vai ter um impacto bastante mais disruptivo que a da comunicação. A revolução da comunicação expandiu exponencialmente os horizontes de comunicação de todos, mas na prática não afectou demasiado o valor dos ativos das famílias. O telefone fixo poderá ter perdido parte do seu valor, mas nunca vi ninguém a contrair um empréstimo equivalente a metade do rendimento anual para comprar um telefone fixo. No entanto, hoje em dia, a maior parte das pessoas perdem uma parte relevante do dia dentro de um carro que lhes custou várias vezes o salário mensal, que passa 90% do tempo parado (muitas vezes a pagar por isso) e que polui o ambiente…

Ouvi recentemente a história verídica da amiga de um amigo que fez as ponderações e decidiu vender o carro para passar a estar dependente do Uber. É a primeira história que ouço do género, mas é a confirmação de que a revolução da mobilidade está em curso – desconfio que vou ouvir histórias destas cada vez mais frequentemente. Existe outra história (de um livro cujo nome e autor não me recordo) em que é perguntado a um homem muito rico que foi à falência como é que isso lhe aconteceu. O homem respondeu: “Ao princípio gradualmente, depois foi de repente”. Esta resposta ilustra bem o desenrolar das situações de insolvência, mas também se aplica bem ao ritmo de adopção de novas tecnologias.

Se a ideia de um mundo sem condutores parece utópica agora, imagino o que terão sentido as pessoas quando lhes foi anunciado que era possível falar com uma pessoa no lado oposto do mundo através de ondas invisíveis emitidas por um aparelho parecido com um tijolo…

A revolução da mobilidade está realmente a acontecer e o choque disruptivo desta revolução vai sentir-se muito além do setor automóvel… As implicações para as decisões de investimento que tomamos hoje são extremamente importantes.