De acordo com dados estatísticos da ONU (2012), estima-se que em 2050 a população mundial supere os nove mil milhões de pessoas, das quais cerca de 67% irão estar concentradas em centros urbanos. São números que evidenciam a importância para as cidades e para os seus governantes de se prepararem para os enormes desafios que se lhes irão colocar nos próximos anos.
Se, por um lado, as cidades funcionam como autênticos motores para o desenvolvimento económico e social dos países, por outro lado, não podemos ignorar que são também, e simultaneamente, espaços de múltiplos e enormes desafios, estejam eles relacionados com a intensa concentração de pessoas – que inevitavelmente coloca as infraestruturas e o tecido social sob pressão – ou com o enorme crescimento em termos dos recursos que necessitam de ser assegurados, para garantir o bem-estar de um cada vez maior número de pessoas.
As perspetivas globais sobre o crescimento das aglomerações urbanas representam, portanto, desafios importantes para a gestão pública, impondo a criação de soluções sustentáveis e novos modelos de desenvolvimento urbano. É neste contexto que surge o conceito de Cidades Inteligentes (Smart Cities), que se consubstancia pela transformação digital das cidades, onde cidadãos e serviços estão conectados através da introdução de tecnologias digitais na gestão e utilização dos diferentes serviços urbanos, permitindo maior eficiência na utilização de energia, no aproveitamento da água, no tratamento do lixo, na partilha de produtos, serviços e espaços e nas deslocações diárias.
É um novo paradigma de gestão urbana, onde a cidade inteligente cria laços digitais, que unem os seus habitantes e propiciam um maior desenvolvimento económico e a melhoria da qualidade de vida.
Nestas novas “cidades inteligentes”, o potencial das novas tecnologias digitais é aproveitado de forma a promover a melhoria da eficiência na utilização dos recursos disponíveis e da sustentabilidade ambiental, contribuindo para o aumento da competitividade económica e da inovação. O uso do digital permite obter informação e tomar decisões estratégicas quase em tempo real, aproximando municípios, cidadãos e empresas.
Tirando partido de novas tecnologias como a “Internet das Coisas” e a “Analítica Big Data”, os gestores de cada serviço urbano poderão dispor de novos indicadores sobre o mesmo, que lhes permitirão a sua gestão mais eficiente, os cidadãos terão acesso a informação atualizada e ubíqua, que lhes permitirá conhecer o estado de cada serviço em cada momento e, com base nisso, decidir qual a melhor forma de o utilizar, em função das suas necessidades, e as empresas terão à sua disposição dados abertos sobre o estado da cidade e dos seus serviços, que incentivarão a sua capacidade de inovar e de criar novos serviços e novos negócios.
Atualmente, o investimento em tecnologia está bastante presente na agenda política e em Portugal já existem algumas soluções e iniciativas, umas em preparação e outras já em fase de implementação. Lisboa é, sem dúvida, um grande polo urbano e do ponto de vista da transformação digital é um excelente caso para analisar. É notório o esforço da cidade em estar na linha da frente, sendo exemplo disso a candidatura em 2015 ao programa Sharing Cities, um projeto pioneiro da União Europeia, destinado a tornar as cidades mais inteligentes e a melhorar índices de eficiência energética, e do qual fazem parte além de Lisboa, grandes cidades como Londres (Greenwich) e Milão.
O passo mais recente consistiu no desenvolvimento da Plataforma de Gestão Inteligente da Cidade de Lisboa, uma infraestrutura que vai ser o suporte tecnológico do Centro Operacional Integrado de Lisboa (COI), o coração de um projeto de transformação digital mais amplo, que vai dotar o município não só de um conjunto de ferramentas inovadoras de gestão colaborativa de ocorrências e eventos, como também de um conjunto de analíticas de dados, que procurarão prever eventos impactantes para a cidade e com isso dar mais tempo para que os serviços urbanos preparem as suas operações para melhor lidar com os mesmos.
Esta é uma solução que prepara a cidade para os problemas, antecipando-os, identificando-os e resolvendo-os, através da análise de grandes quantidades de informação que monitorizam determinados aspetos como o ruído, a qualidade do ar, a higiene urbana e a segurança, entre muitos outros.
É incontestável que a tecnologia digital é um recurso poderoso e que os seus benefícios são visíveis, quando bem utilizados. Nesse âmbito, a política europeia tem dado prioridade à criação de iniciativas inteligentes e sustentáveis de modo a dar continuidade aos objetivos da Estratégia Europa 2020. Com o apoio da União Europeia e uma liderança forte do poder local, Portugal tem condições para ser um país pioneiro a nível europeu na transformação digital das suas cidades e com isso construir um futuro mais inclusivo e sustentável, suportado numa maior participação dos cidadãos na gestão mais eficiente dos espaços urbanos.