Na passada segunda-feira, ao fim da tarde, procurei saber pela rádio e pelas televisões da audiência parlamentar com o ministro do Trabalho a propósito do escândalo da “Raríssimas”. Após ouvir a Antena 1, a TSF e depois ver a SIC e a RTP fiquei com a ideia que Vieira da Silva havia saído em ombros e só não foi aplaudido por pudor. Nada ganhou com a sua passagem pela associação (dois anos como membro da assembleia geral), nada sabia do BMW, dos ordenados e do nepotismo instituído, parece que só lhe chegaram ao ouvido umas vagas irregularidades e quanto a essas terá aconselhado o Ministério Público, enfim “estava tranquilo e continua tranquilo”. Foi aí que fiquei intranquilo. Valha-nos esta modernice tecnológica de rebobinarmos qualquer canal televisivo e recuperei o Jornal das Oito da TVI. Parecia que a realidade era outra. Ou melhor, os jornalistas da TVI haviam seguramente assistido a outra audiência parlamentar que não aquela que a Antena 1, TSF, SIC e RTP relataram. Aí a minha intranquilidade acentuou-se. É que o poder das imagens é extraordinário. Bastou a TVI mostrar a intervenção de um deputado, não recordo qual, a mostrar a cópia da primeira denúncia dirigido ao ministro em janeiro de 2017, e outra em março e outra em junho e mais outra em setembro e mais outra e outra, depois perguntar quantas são necessárias para desencadear uma reacção do ministro e este refugiar-se na diferença entre “irregularidades” e “gestão danosa” para se mergulhar, sem preparação, nas “verdades alternativas” e no “lava mais branco”. Ou seja, em boa verdade, tudo o que deveria ter sido esclarecido na audiência parlamentar do ministro Vieira da Silva não só não o foi como contribuiu para criar uma espécie de nuvem de fumo que visa ilibá-lo de qualquer responsabilidade política. Que para isso tenha contribuído alguma comunicação social não espanta. Grave seria se ninguém furasse o bloqueio. Felizmente temos a TVI e nela uma jornalista chamada Ana Leal, que faz e muito bem o seu trabalho e, sobretudo, não tem medo. Porque há aí uns aprendizes do Torquemada que bem gostariam de fazer uma fogueira com a jornalista e o tesoureiro. Pois foi ela, que sabe mais do que ninguém porque investiga o tema há meses, que nesse mesmo Jornal das Oito de segunda feira disse o essencial e provavelmente a verdade: o ministro nada fez porque era amigo da presidente da Raríssimas! Ora, porque teve conhecimento prévio do que ele chama de “irregularidades” (e os atos de gestão danosa não são irregularidades?) o facto é que só depois da reportagem da TVI Vieira da Silva mandou para lá os inspetores. Uma elementar interpretação minimalista da responsabilidade política levaria à demissão do ministro. Mas já sabemos, pelos casos de Pedrógão ou Tancos, que o atual Governo não tem essa interpretação pela simples e elementar razão de que para ele não existe sequer responsabilidade política.