Na próxima semana terá início o período de desconfinamento, num clima ainda dominado pela incerteza. No início desta semana, o famoso Rt – ou índice de transmissibilidade da Covid-19 – subiu a nível nacional para 0,94, embora a incidência tenha baixado em relação aos dias anteriores. Nada para já permite garantir, muito menos o processo de vacinação em curso mas ainda incipiente, que não haverá de novo um retrocesso no calendário das medidas de abertura dos diferentes sectores económicos.

Otimistas uns, mais pessimistas ou mesmo realistas outros, as perceções dividem-se. Segundo o recente relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE), o índice de confiança dos consumidores registou em março um aumento significativo, após ter diminuído no mês anterior. De acordo com o INE, atingiu mesmo o nível mais elevado desde abril de 2020, uma evolução que terá resultado “do contributo positivo de todas as componentes, sobretudo das expectativas relativas à evolução futura da situação económica do país“.

A notícia surge como positiva, até porque os indicadores de confiança aumentaram não só nas famílias mas também na indústria transformadora, no comércio e nos serviços, enquanto o indicador da construção e obras públicas estabilizou. Isto embora uma melhoria mais expressiva da confiança dos empresários no comércio e serviços ainda dependa de indicadores satisfatórios, relativamente ao volume de vendas e às apreciações sobre o volume de stocks, que contribuíram negativamente para o resultado do inquérito.

Em sentido contrário há, no entanto, que ter em consideração alguns sinais de alerta. Por um lado, ao nível das famílias, o final do período de moratórias surge numa altura em que um estudo da DECO alertou para o facto de mais de um quarto dos agregados inquiridos terem sofrido cortes iguais ou superiores a 25% no seu rendimento, integrando o patamar dos 63% que passam dificuldades financeiras e dos 6% que enfrentam mesmo uma situação crítica. São números muito expressivos para uma base de quase 5.000 agregados inquiridos.

Por outro lado, há sectores cruciais para a economia nacional, como o turismo, ao qual devemos dar particular atenção. Como este jornal noticiou, as agências de viagens alertam que o período da retoma será “o mais desafiador” para as empresas em termos de tesouraria e, no Algarve, os empresários antecipam mais um verão fraco e temem que muitas empresas não consigam aguentar o inverno e abram falência, também pela dependência face ao golfe do turismo da região, atividade desaparecida com a pandemia. Finalmente, quanto à restauração, a limitação de clientes definida obrigará a uma ginástica enorme para garantir a rentabilidade dos negócios, por muito tempo ainda.

Desburocratizar os processos entre a legislação e os apoios, diminuir o tempo desperdiçado entre os anúncios e a implementação de medidas concretas e clarificar o sistema de apoios repartido pelas diferentes tutelas do Governo, são medidas – a par das decisões interligadas com a gestão da pandemia – que tardam inexplicavelmente. Mas são, cada vez mais, obrigatórias. Caso contrário, o otimismo em breve se esfumará para ceder o espaço a uma dura e crua realidade.

 

 

Os museus e monumentos municipais de Lisboa vão reabrir na próxima semana e serão gratuitos durante todo o mês de abril. É uma boa notícia por parte da EGEAC, a qual, como vereador na oposição ao executivo socialista, não tenho qualquer problema em louvar. Infelizmente, ao nível do Governo e em sentido contrário, foi notícia o estado à beira do colapso dos museus e equipamentos, incluindo o MNAA.

 

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