O processo de vacinação contra a Covid-19 avança a passos largos e tudo indica que em setembro a maioria dos portugueses já estará imunizada contra a doença. Porém, o número de contágios continua a aumentar, à medida que a economia reabre e a vida em sociedade regressa a um certo normal, entre avanços e recuos no desconfinamento.
Esta aparente contradição leva a que muitos questionem a eficácia das vacinas, mas é preciso ter em conta duas coisas: por um lado, a vacina previne as hospitalizações e os casos graves, não necessariamente os contágios; por outro, a maioria dos novos casos que surgiram nas últimas semanas ocorreram nas faixas etárias mais jovens, que ainda não foram abrangidas pela vacinação. Tudo somado, estamos a assistir a um aumento significativo do número de infeções, mas as hospitalizações e as mortes são bastante inferiores às que se verificavam no início deste ano. Esta tendência tem-se verificado em outros países onde o processo de vacinação está mais avançado. Temos por isso razões para estar otimistas.
No entanto, tal não significa que se deva facilitar ou deixar de lado os cuidados para evitar a propagação da pandemia. Ainda que não provoque a morte, a Covid-19 pode causar sequelas graves mesmo em pessoas novas. Além disso, não podemos esquecer que no mundo em desenvolvimento o processo de vacinação está muito atrasado. A doença vai continuar a propagar-se nesses países e poderão ocorrer mutações que levem ao surgimento de variantes resistentes às vacinas atuais. Se tal ocorrer, nos próximos anos poderemos ter novas vagas da pandemia, com todas as consequências daí decorrentes.
Este facto deveria servir para uma reflexão por parte dos governos dos países desenvolvidos, que no último ano e meio não se mostraram particularmente solidários com o resto do mundo. Ajudar os países menos desenvolvidos a enfrentar a pandemia, fornecendo-lhes vacinas, ventiladores, máscaras e outros materiais, não é apenas um imperativo ético, mas algo do nosso próprio interesse.
P.S.: A Justiça está finalmente a fazer alguma coisa em relação a vários grandes devedores que andam há anos a fintar os bancos, provocando pesados prejuízos aos contribuintes. É de saudar, mas esperemos que o interesse da Justiça não se fique por dois ou três figurões que sirvam de bodes expiatórios.