A economia portuguesa encontra-se em processo de franca recuperação, seguindo a tendência visível na Zona Euro e na União Europeia (UE), à medida que os processos de vacinação se desenvolvem e afrouxam as limitações impostas à mobilidade e às atividades económicas. Nas últimas estimativas divulgadas, o Banco de Portugal corrigiu em alta de 0,9 pontos percentuais a projeção anterior, de um crescimento de 3,9% do produto interno bruto (PIB) este ano, uma das mais pessimistas, acreditando agora que o ritmo de progressão atingirá 4,8%, idêntico ao passo que a Comissão Europeia antevê, em julho, para o conjunto das economias da moeda e da UE e que representa uma atualização de 0,6 pontos percentuais, no primeiro caso, e de 0,5 pontos, no segundo. Só que, que este aparente alinhamento esconde a perceção de maior risco que Bruxelas tem em relação à evolução a economia portuguesa, porque, na mesma altura que revia em alta as estimativas para este e ano e para o próximo para as economias da Zona Euro e da UE, justificadas por uma quebra inferior ao previsto do PIB no primeiro trimestre e pelo andamento dos processos de vacinação contra da Covid-19, Bruxelas deixava inalteradas as projeções para Portugal, em 3,9%, tal como a ideia inicial da instituição presidida por Mário Centeno.
A Comissão Europeia refere, no seu relatório, que “o ritmo da recuperação [da economia portuguesa] foi travado pelo regresso parcial de restrições temporárias em junho”, mas que, mesmo assim, considera que “a economia portuguesa está a caminhar para uma recuperação robusta, com início no segundo trimestre de 2021”, que depois seria reforçada, no terceiro trimestre do ano, pelo aumento esperado do turismo estrangeiro, em consequência da campanha de vacinação europeia e do lançamento do certificado digital. No entanto, a “recuperação robusta” da economia portuguesa não acompanha o resto da economia europeia; se Bruxelas já estimava um diferencial de 0,3 ou 0,4 pontos percentuais, agora admite que os países da moeda única e da UE estuguem o passo do crescimento, duplicando a diferença para Portugal. Em consequência, o conjunto das economias atingirá o ambicionado nível pré-pandemia no último trimestre deste ano, enquanto Portugal só o fará no próximo ano.
Futuro com PRR
Tal como o Banco de Portugal justificou a revisão em alta das estimativas para Portugal com as “perspetivas mais positivas para a atividade no curto prazo, essencialmente relacionadas com a melhoria da confiança dos agentes económicos”, também os técnicos da Comissão Europeia assinalam o otimismo para a evolução da economia portuguesa com o aumento acentuado do Indicador de Sentimento Económico da Comissão e nos dados das vendas a retalho, produção industrial e volume de negócios do sector dos serviços.
A verdade é que a economia portuguesa se debate com a incerteza gerada pela evolução da pandemia, nomeadamente pelo aparecimento e disseminação de novas variantes da Covid-19 e pelo desenrolar dos processos de vacinação, não só nos principais mercados emissores de turismo, mas também em Portugal. O aumento do número de casos de infeção pela doença e as constantes oscilações no levantamento das limitações impostas a cidadãos e a atividades constituem um foco de preocupação. Esta situação, vista de fora, levou já a medidas do Reino Unido, da Alemanha e de França, que, mesmo sendo temporárias, impactam a perceção de um país seguro e têm um efeito objetivo no número de visitantes que escolhem Portugal como destino. Já em pleno verão e com o número de novos casos a aumentar, ultrapassando os 4.000 por dia, e a incidência a subir acima de 330 por 100 mil habitantes, superando a barreira dos 240, que era considerada uma “linha vermelha”, teme-se pelo agosto económico no sector do turismo.
No entanto, o ministro das Finanças afirma-se confiante numa recuperação da economia portuguesa “mais forte” do que o previsto, mesmo com todas as incertezas. As últimas estimativas do Governo, constantes do Programa de Estabilidade apresentado em abril, apontavam para um crescimento de 4% em 2021 e 4,9% em 2022, ou seja, ligeiramente mais otimistas que as da Comissão Europeia, para este ano, mas 0,2 pontos percentuais mais pessimistas do que Bruxelas, para o próximo.
João Leão usa a bitola do Banco de Portugal, mais otimista que as Finanças em 0,9 pontos quanto a este ano e em 0,7 no que respeita ao próximo, para dizer que as perspetivas económicas para 2021-2022 são “positivas” e que a recuperação “pode ser ainda maior”. Para isso, conta com as subvenções do já aprovado Plano de Recuperação e Resiliência, que “atingem 7% do PIB e permitem não só assegurar a recuperação, mas, sobretudo, transformar o nosso país, aumentando o nosso potencial de crescimento, eliminando barreiras ao nosso progresso e garantindo uma economia mais competitiva, empresas mais produtivas e mais e melhor emprego”. Ainda que, para já, a uma velocidade mais lenta do que a da Europa.
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com