O processo de vacinação contra a Covid-19 avança a passos largos e temos algumas razões para estar otimistas. À semelhança do que sucedeu noutros países, em Portugal o número de infeções aumentou consideravelmente à medida que a economia iniciou o processo de desconfinamento, mas as hospitalizações e os óbitos subiram menos do que seria expectável, devido ao facto de a maior parte das pessoas pertencentes a grupos de risco já estarem vacinadas. O número de pessoas infetadas com Covid-19 que já tinham sido vacinadas é muito reduzido, o que significa que a vacinação está a produzir efeito. A manter-se esta evolução, temos razões para acreditar que dentro de alguns meses a maior parte da população portuguesa estará imunizada, o que é uma boa notícia não só para a saúde pública como para a recuperação da nossa economia.

No entanto, existem riscos no horizonte. O principal está relacionado com a evolução da pandemia. Nos países em desenvolvimento, o processo de vacinação está muito atrasado, o que significa que o vírus irá continuar a propagar-se e a sofrer mutações, as quais poderão tornar-se resistentes às vacinas. Os países ricos têm, pois, de ajudar o resto do mundo a avançar com o processo de vacinação, não só por dever ético mas também por interesse próprio.
Neste contexto, o otimismo tem de ser temperado com cautela. O surgimento de novas variantes resistentes às vacinas faria o mundo andar para trás e obrigaria eventualmente a um regresso ao confinamento e ao lançamento de novos processos de vacinação. A economia voltaria a ser fortemente impactada e a recuperação a que temos assistido nos últimos meses estaria em risco.

Porém, existem outros riscos que podem complicar a recuperação da economia, como é o caso das tendências inflacionistas a que temos assistido na Europa, nos Estados Unidos e noutras geografias. Os banqueiros centrais dão a entender que se trata de um fenómeno transitório, devido à explosão de procura reprimida no pós pandemia, mas crescem os receios de que possa ser algo mais estrutural, dando força aos argumentos dos “falcões” que, na Fed e no BCE, pedem o fim dos estímulos e a reversão das políticas macroeconómicas dos últimos anos. Escusado será dizer que a subida das taxas de juro teria consequências muito negativas para um país endividado como Portugal (embora não fôssemos os únicos a sentir tais dificuldades). Estes e outros riscos tornam ainda mais necessário que o país faça um bom aproveitamento das verbas do PRR. Será provavelmente a última grande oportunidade para fazer as reformas necessárias e reforçar a competitividade da nossa economia.