Nos últimos anos, a urbanização tem impactado significativamente a qualidade de vida dos cidadãos. Os impactos diretos são sentidos ao nível da poluição ambiental e sonora, mas há também impactos indiretos como o aumento do congestionamento de tráfego urbano.
Tradicionalmente, o setor da mobilidade e transportes requereu investimentos significativos nas infraestruturas de transporte. Atualmente, as necessidades de investimento nas infraestruturas de suporte, tais como de pagamentos ou carregamento elétrico, têm também aumentado, em linha com os movimentos de transição energética e novas formas de consumo.
A pandemia veio reforçar esta tendência, acelerando a necessidade de digitalização do modelo de negócio dos operadores, mas também a aceitação dos canais digitais e formas de consumo inovadoras por parte dos utilizadores. Esta rápida aceleração tem contribuído para um aumento significativo nas infraestruturas tecnológicas das empresas e dos seus parceiros.
O conceito de mobilidade como um serviço (“MaaS”) surgiu neste contexto, e a sua preponderância foi reforçada pela pandemia. Segundo este conceito, a experiência do utilizador já não é ditada pela propriedade do veículo, mas sim pela qualidade da prestação do serviço de mobilidade, geralmente através de plataforma digitais. Quando aplicado ao transporte público, a experiência do utilizador deixa de ser determinada pela concretização da viagem entre dois pontos, mas sim nas duas fases fundamentais:
i) pré-viagem: facilidade de consulta de horários e planeamento de rotas em tempo real, bilhética integrada e modos de pagamento digitais.
ii) viagem: possibilidade de combinar modos de transporte público, de integrar redes de mobilidade partilhada, infraestruturas de carregamento elétrico, ou modos soft.
Desta forma, o utilizador contrata a mobilidade como um serviço que cumpre as suas necessidades específicas de transporte, mas também as suas expetativas em relação à experiência de utilização.
O MaaS permite disponibilizar experiências de mobilidade contínuas e integradas em espaços urbanos e suburbanos, exigindo forte cooperação entre as operadoras de vários modos de transporte, mas também com entidades municipais e regulatórias, cujo esforço de coordenação é essencial.
Quando implementado de forma transversal, o MaaS conduz à alteração do paradigma da mobilidade através da centralização do ecossistema no utilizador e no cidadão em geral, que terá acesso a uma rede de transporte multimodal, integrada, dinâmica e com maior grau de personalização.
Esta alteração de paradigma poderá ainda gerar externalidades positivas, nomeadamente a redução do tráfego urbano, o aumento do valor percecionado dos serviços de transporte público e das soluções de micromobilidade, e o incentivo à valorização e reconversão dos espaços públicos tais como estacionamentos.
Assim, a concretização dos benefícios que advêm da introdução e implementação de modelos de negócio assentes no conceito MaaS depende, em larga medida, da capacidade de cooperação entre os vários operadores de mobilidade, destes com as entidades municipais e regionais, mas também das próprias empresas alterarem substancialmente os seus modelos de negócio e operacionais incorporando maior variabilidade da procura e oferta e novas exigências dos consumidores.