A chanceler Angela Merkel está esta sexta-feira em Moscovo, onde visitou o Kremlin e se encontrou com o Presidente russo Vladimir Putin enquanto líder da Alemanha. Os meios de comunicação russos não se cansam de falar numa visita cheia de silêncios e com os semblantes carregados, mas o simples facto de ela acontecer é considerado politicamente relevante.
A presença de Merkel num país que tem sido uma das maiores dores de cabeça da diplomacia alemã – nomeadamente no que tem a ver com as suas repercussões junto dos restantes parceiros alemães – não deixa de ser um sinal para quem vier a seguir. Merkel deixará de ser chanceler depois das eleições federais do próximo dia 26 de setembro mas a visita pretende dizer que a Rússia não deverá ser nunca um país a hostilizar pela diplomacia germânica.
Para todos os efeitos, a Rússia continuará a ser um importante parceiro comercial da Alemanha e talvez o mais relevante fornecedor externo na área das energias. Aliás, o gasoduto Nord Stream 2 foi um dos dossiês mais difíceis com que Merkel teve de lidar nos muitos anos que leva à frente da Alemanha. E os últimos foram disso mais uma prova – quando a chanceler teve de manter negociações com os Estados Unidos para combinar uma forma de manter a Rússia como fornecedora de energia à Alemanha sem que isso levasse a administração da Casa Branca a impor sanções aos germânicos.
Mas a presença de Merkel em Moscovo é também um recado para a União Europeia como bloco: vizinhos que nunca deixarão de o ser, a chanceler quer marcar a evidência de que o melhor caminho é o das negociações e do diálogo e não o da confrontação permanente.
Os críticos dizem que esta postura da Alemanha é um dos motivos para que a Rússia se sinta confortável em, por exemplo, avançar para a anexação da Crimeia ou para o regime bielorrusso manter uma perseguição feroz sobre os opositores políticos apesar de todo o ‘palavreado’ europeu. Mas, aparentemente, Merkel prefere ‘aguentar’ todas as ‘birras’ do Kremlin em vez de optar pelo cenário contrário: o da confrontação direta. A União Europeia, parece dizer a chanceler, deve esforçar-se por manter esse sentido diplomático.
Com certeza que a visita de Merkel a Moscovo já estava marcada antes da tomada da capital afegã pelos Taliban – mas, para além de não haver nenhuma razão para desmarcar – fica também evidente que a Alemanha considera a Rússia uma das partes da solução do problema no longínquo país asiático, que fica a milhares de quilómetros da Alemanha mas bem mais perto da Rússia (havendo mesmo uma fronteira comum nos tempos da União Soviética).
É como se Merkel estivesse a deixar uma mensagem segundo a qual a União Europeia está condenada a entender-se com a Rússia. Merkel e Putin partilham uma relação de 15 anos sem interrupções – que acabará em setembro.
“Nenhum par de políticos do cenário global foi tão bom em dar-se tão mal durante tanto tempo quanto Merkel e Putin”, escreveu o jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” a propósito da visita desta sexta-feira.
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