Ou Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central
Primeiramente, como se impõe, uma declaração de interesses: fui membro do conselho de administração de uma empresa do mesmo sector do da Efacec, tendo sido concorrente, cliente, fornecedor e parceiros em consórcios. Tal declaração não me impede de dar a minha opinião isenta sobre o enorme erro estratégico, motivado, por falta de outra razão válida, por puro preconceito ideológico, e que foi a nacionalização da Efacec.
Escapou à comunicação social e, mais grave, à oposição, a recente notícia sobre o processo de reprivatização da participação social do Estado na Efacec. To make a long story short, nos documentos de venda a Efacec terá reportado no exercício de 2020 um Ebtida de 20 milhões de euros negativos. Ou seja, a Efacec custaria ao Estado, maior acionista da Efacec, a módica quantia de 20 milhões de euros por ano. E para quem não sabe, o resultado negativo da empresa é muitíssimo superior ao Ebitda se adicionarmos os encargos financeiros e as amortizações.
Acontece que, após a auditoria levada a cabo pelos concorrentes à compra, o Ebitda terá sido ajustado para 60 milhões de euros negativos, e com a expectativa de, nos anos seguintes, o ebitda regressar aos tais 20 milhões de euros anuais negativos.
Por tal facto, e tendo em conta a dívida financeira líquida da Efacec rondar os 170 milhões de euros, os dois concorrentes (nacionais, porque os estrangeiros, do sector, desinteressaram-se), em lugar de pedirem dinheiro para ficarem com a empresa, limitaram-se a pedir uma garantia do estado para esta dívida. Se tivermos em conta o múltiplo do benchmark para este tipo de empresa (4x) o Estado teria de pagar ao comprador, pelo menos, 80 milhões de euros (4x ebitda negativo reportado) para este ficar com a Efacec, sem contar com a dívida que o Estado deveria assumir…
Até aqui tudo normal nesta república das bananas, não fosse dar-se o caso de após a nacionalização, o Estado ter garantido um empréstimo de 70 milhões de euros, já integralmente consumido, ter nacionalizado a empresa sem uma prévia auditoria, ter mantido a equipa de gestão responsável por estas contas, e ter concluído publicamente que a Efacec, ao contrário da TAP, era uma empresa economicamente viável.
O ministro da Economia é um advogado experimentado neste tipo de transacções de empresas e sabia, ou devia saber, que quando adquiriu o controlo de uma empresa em situação financeira difícil, pelo menos devia ter garantido que a mesma era economicamente viável ou, mínimo, olhar para as contas… E, mais grave, atirou poeira para os olhos para quem o lia e ouvia, por diversas vezes, pois sempre manifestou publicamente que a empresa estava muito bem, que era economicamente viável e que estava a fazer o seu turn around.
Pois bem, após a auditoria feita pelos candidatos à compra, a empresa, para quem quiser ver, é economicamente inviável e diria que até se encontra novamente numa situação financeira muito difícil que, imporá, brevemente novo financiamento ou garantia estatal.
A empresa tem cerca de 2.500 trabalhadores, sindicatos muito fortes e coesos, localizada no norte industrial e é uma empresa de referência no sector onde actua. O que não é, é uma empresa economicamente viável e isso ficou muito claro no processo de reprivatização, onde se descobre que o Ebitda afinal não é de 20 milhões de euros, mas três vezes mais. E ninguém se demite? Os membros do Conselho de Administração, os auditores, o ministro?
Nacionaliza-se uma empresa sem se saber se as contas evidenciam a verdadeira situação económico-financeira da empresa? Nacionaliza-se uma empresa por razões alegadamente ligadas a uma acionista e mantém-se a anterior equipa de gestão indicada por aquela? E quando se sabe que as contas não reflectem integralmente a performance da empresa não há consequências jurídicas ou políticas?
Isto acontece porque a nacionalização se deveu a um mero preconceito ideológico, porventura, triste país, gerado numa das negociações de aprovação do OE pelo PCP. E agora? Como dizem alguns empresários neste tipo de situações: stop losses! Mas não é o Estado empresário que pode fazer isso. Mais capital, mais garantias públicas a novo endividamento da empresa, mais auxílios do Estado que só encontram limite, como vimos na TAP, na Comissão Europeia, é a triste realidade que nos espera.
Tanta preocupação deste Governo em somente apoiar as empresas economicamente viáveis, apesar da pandemia e dos constrangimentos de tesouraria que esta provocou, e agora não hesita em apoiar uma empresa, que actua num mercado concorrencial, e que não é manifestamente viável?!
E uma nota final: o sector onde a Efacec actua não sofreu, como outros sectores, com a pandemia. Alguém se demita, porque depois do Novo Banco e da TAP, este é o novo monstro despesista. O acrónimo EFACEC será doravante “Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central”. E a conta final será, como sempre, o contribuinte que a pagará.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.