Se tem crianças, provavelmente sabe que neste momento é quase impossível adquirir uma PS5. O meu filho fala constantemente disso, pois foi-lhe prometida a consola caso as notas fossem satisfatórias. Mas ainda está à espera porquê?
Porque existe uma escassez mundial de chips, que está para durar.
Milhões de produtos precisam de chips (semicondutores). Consolas, automóveis, eletrodomésticos, smartphones e muitos outros. E, neste momento, não estão a conseguir produzir a quantidade necessária.
Esta situação agravou-se nos últimos anos. Pressões como a emergência do 5G, a guerra comercial entre os EUA e a China, ao uso de chips de baixo custo e a complexidade de produção são fatores que têm impacto na crise dos chips – Chippagedon.
A escassez de chips agravou-se com a Covid-19, com empresas a anteciparem grandes compras e deixando outras sem capacidade de aquisição. Acresce que, com o crescimento do teletrabalho, a procura por PCs, webcams e tablets aumentou em paralelo com o encerramento de algumas fábricas de semicondutores.
A Covid pode ter sido a gota de água, mas não foi o maior responsável. A instabilidade climática traz problemas sérios aos produtores de chips.
A seca em Taiwan (a pior dos últimos 50 anos) tem contribuído para dificuldades de produção. A água é um recurso essencial para o planeta, mas também para a tecnologia que usamos. Estima-se que são necessários aproximadamente 80 litros de água para produzir um chip. Em 2019, a fabrica da TSMC, o maior produtor mundial de chips para terceiros, consumia 156 megalitros de água por dia.
Taiwan produz 63% do mercado. No final de 2020, o governo do Taiwan começou a racionar água. Tipicamente as monções repõem os reservatórios de água e ajudam na limpeza dos resíduos químicos deixados pela indústria, mas a seca está a criar disrupção no setor. Hoje, a situação está tão crítica que a empresa transporta camiões com água do lado sul da ilha até ao local de produção.
Por outro lado, um inverno atipicamente frio no Texas, obrigou a Samsung a encerrar a fabrica de semicondutores durante fevereiro, com uma perda de $270 Milhões. No Japão, a Renesas Electronics, um dos maiores produtores de chips para a indústria automóvel sofreu um incêndio e teve de parar a produção em março. Este incidente teve um impacto significativo na capacidade de entrega junto dos clientes como a Toyota, Nissan e Honda.
A Intel e a IBM estimam que a escassez de chips pode durar dois anos.
O apetite por semicondutores tende a crescer e teremos que encontrar outras soluções. Produzir chips é complexo, requer investimento avultado e equipas sofisticadas, mas também um cuidado especial com a sustentabilidade. Este é apenas mais um exemplo do impacto económico da má gestão ambiental a nível mundial.
Se quisermos continuar a utilizar os aparelhos eletrónicos (a preço baixo), ou satisfazer a promessa da PS5 ao nosso filho, teremos que ser mais responsáveis na produção, gestão da cadeia de valor e utilização estratégica de recursos naturais.