O presidente turco, Recep Erdogan, e o presidente do Conselho Presidencial da Líbia, Younes Menfi, reuniram-se à porta fechada em Nova Iorque, à margem da 76ª Assembleia Geral da ONU, para debaterem a difícil situação vivida naquele país africano – com o Conselho a mostrar-se incapaz de assegurar um mínimo de estabilidade para organizar as eleições previstas para este ano.
O encontro de Erdogan e Mohammad Younes Menfi, que aconteceu no recém-inaugurado Centro Türkevi, ou Casa Turca, em frente à sede da ONU, foi acompanhado pelos ministros turcos da Cultura e Turismo, Mehmet Nuri Ersoy, e da Defesa, Hulusi Akar, e por um representante do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, de Erdogan), o que demonstra bem o empenhamento com que a Turquia encara a questão líbia.
A Líbia conseguiu recuperar serenidade interna suficiente para, desde fevereiro, contar com uma autoridade executiva unificada para governar até às eleições nacionais, previstas para 24 de dezembro – mas de então para cá o ambiente político voltou a crispar-se e ainda esta semana o executivo recebeu um voto de desconfiança da maioria dos deputados parlamentares.
Em novembro de 2019, o governo líbio reconhecido internacionalmente assinou um acordo de cooperação e demarcação de uma fronteira marítima com a Turquia. O acordo Turquia-Líbia sobre delimitação marítima forneceu um quadro jurídico para prevenir qualquer intromissão externa de outros estados.
Para Ancara, este acordo impediu que a Grécia se apoderasse de parte da plataforma continental da Líbia e tomasse em mãos os interesses petrolíferos do país africano. O acordo também confirmou que a Turquia e a Líbia são vizinhos marítimos – o que não foi muito bem visto pela comunidade internacional, que duvida da eficácia jurídica do entendimento.
A Turquia, que está envolvida na Líbia há mais de uma década, sabe que os seus interesses no país africano não são observados com agrado, nomeadamente pela União Europeia, que teme que o corredor marítimo criado pelo acordo acabe por trazer graves dissabores diplomáticos a todas as partes envolvidas.
A Turquia apoiou o internacionalmente reconhecido Governo de Acordo Nacional (GNA) de Trípoli, contra as forças insurgentes do general Khalifa Haftar, apoiado pela Rússia, Egipto, Emirados Árabes Unidos e França. O assunto continua a gerar forte controvérsia interna e impede – ao contrário do que pedia a ONU – a existência de um quadro estável em termos internacionais para a criação de condições para a realização de eleições, o primeiro passo da normalização da sociedade líbia. Desde a morte do líder líbio Moammar Kadhafi, em 2011, que o país está literalmente em estado de sítio – com uma guerra civil talvez ainda não totalmente ultrapassada e com o seu território a ser alvo fácil da redes de tráfico de seres humanos para a Europa.
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