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Juros afugentam os touros de Wall Street

A reacção à subida dos juros é um ‘déjà-vu’ do que ocorreu de meados de Fevereiro até à segunda semana de Março.
Alex Grimm/Reuters
29 Setembro 2021, 10h24

Em apenas seis sessões os juros das obrigações a dez anos da dívida soberana dos EUA subiram dos 1,30% para os 1,55%, o que à primeira vista pode parecer pouco, mas na realidade é um movimento sísmico agressivo num mercado habituado à estabilidade, resultado da última reunião da Reserva Federal (Fed), na qual foi confirmado que o tempo da política monetária ultra dovish tem os dias contados.

Isto não remete apenas para o tema da eliminação da injecção de liquidez que o banco central tem efectuado no montante de 120 mil milhões de dólares por mês, mas também para a antecipação da subida dos juros, que agora já poderá ter espaço para ser uma realidade em 2022, contrariamente ao que tem sido a percepção dominante nos últimos meses, que indicava meados de 2023 como a altura mais propícia para tal.

O facto da maior economia do mundo ter respondido positivamente aos gigantescos estímulos fiscais proporcionados pelos Governos de Trump e de Biden, que resultou na recuperação, não total, mas robusta do mercado de trabalho, aliada à disrupção provocada no mercado das matérias-primas e de subprodutos, empurrou a inflação para níveis que numa outra situação seriam encarados com uma reacção substancialmente mais decisiva por parte da Fed.

Contudo, a teoria do banco central de que este aumento inusitado do custo de vida será temporário, permitiu atrasar a inevitável decisão de começar a restringir a facilidade de obtenção de crédito.

Na realidade a reacção à subida dos juros é um déjà-vu do que ocorreu de meados de Fevereiro até à segunda semana de Março, quando os investidores se afastaram do risco, especialmente do sector tecnológico, à medida que os juros a 10 anos subiam dos 1,3% até aos 1,75%, não sendo coincidência que a reacção negativa seja mais contundente a partir dos 1,5% de juros nas obrigações a 10 anos, dado que é sensivelmente o mesmo nível que rende o investimento em dividendos no S&P500.

Ou seja, o segmento accionista perde atratividade em relação ao rendimento fixo, que acarreta menor risco, isto para não incluir o que já referi ontem sobre as tecnológicas perderem competitividade, em relação a outros tipos de investimento, com a subida dos juros.

Daí que foi com naturalidade que na terça-feira Wall Street vergou com o peso das tecnológicas, que empurraram o Nasdaq para uma perda de -2.83%, bem pior que o comportamento do Dow Jones que recuou -1.63%, num dia em que o U.S dólar também respondeu ao toque dos juros e valorizou 0,5% contra um cabaz de outras moedas, pressionando negativamente ainda mais o sector accionista. É de esperar que a volatilidade continue elevada até haver alguma certeza quanto ao tema do aumento do tecto da dívida dos EUA, outro foco de negatividade na sessão de ontem.

O gráfico de hoje é do S&P500, o time-frame é diário.

 

 

Dias importantes se avizinham, uma vez que existe a possibilidade do S&P500 poder testar a média móvel mais forte, a dos 200 dias (verde), o que aconteceu pela última vez no crash da pandemia de Covid, no final de Fevereiro de 2020.

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