1. O país tem bons empreendedores mas falta-lhe gestores. A afirmação é do CEO da capital de risco ActiveCap, Pedro Correia da Silva, e que tem procurado empresas com viabilidade.

O impacto do capital de risco na recuperação das economias europeias foi realçado por um estudo da Invest Europe, a associação das associações de capital de risco (cobre ainda private equity incluindo fundos early stage) que demonstra que aquela indústria tem impacto na produtividade das empresas, no crescimento do emprego e na gestão política dos governantes.

É possível que boas decisões tomadas com base neste tipo de investimento tenham um impacto superior a grandes programas, como o “jovem” PRR. E a grande questão está no facto de muitas empresas precisarem de dinheiro mas, mais do que isso, precisarem de um sentido e de uma orientação em termos de gestão.

O empreendedorismo tem tido bons resultados, sendo que a Farfetch é um expoente, mas há dezenas e dezenas de exemplos. Muitas, porém, param nos 10 ou 20 milhões de euros, porque – a partir daqui – é preciso dar-lhes recursos humanos, gestão e partilha de risco.

É perfeitamente louvável o empreendedor que a partir de determinado nível não coloca na empresa o seu património porque conseguiu tudo na casa dos 50/60 anos e não quer voltar ao que tinha aos 20 se algo correr mal. O capital de risco cumpre critérios rigorosos de rendibilidade, de acompanhamento e de execução em sintonia com a gestão.

2. O tema da banca continua crítico. Os sindicatos dos bancários que interpuseram providências cautelares para suspenderem os processos que iriam conduzir a despedimentos coletivos tiveram sorte diferente consoante os bancos.

No Santander a providência cautelar foi aceite e no BCP não, e a gestão pode prosseguir com a operação desenhada. Já aqui escrevemos que é sempre mais fácil dispensar pessoas do que redesenhar os processos de trabalho.

Dou consistentemente o exemplo de Espanha, onde o tema é menos relevante porque adaptaram as empresas para manterem rendibilidades sem prescindir de pessoas. Hoje, entre nós, temos maus serviços de atendimento ao público nos bancos, supermercados ou serviços públicos, porque se prescinde de pessoas ou substitui-se o trabalho não especializado por máquinas, criando-se problemas sociais.

É uma questão de ética e de responsabilidade social que os grandes gestores têm ao criarem soluções para gerar emprego útil. Claro que não é fácil e, por isso, é que o país tem poucos verdadeiros gestores.

3. Na política continuamos a falar de autárquicas e da vitória de Carlos Moedas em Lisboa. A médio prazo, esta será uma má notícia para Rio, porque Moedas posiciona-se para um cargo de topo na hierarquia do partido. O atual primeiro-ministro está preocupado porque Rio é um seguro para si. Por outro lado, Costa vai ter de dar a mão ao ainda presidente da edilidade de Lisboa, Medina, com vista a controlar a sucessão dentro do PS, ou não terá ninguém a pressionar o provável candidato à liderança, Pedro Nuno Santos.

Costa teve de perder alguma da arrogância com que se apresentou nas últimas semanas antes das autárquicas. De qualquer forma é o partido com mais votos e aquele que tem motivação para obter uma maioria absoluta, se congregar os votos da esquerda.