Num jogo de sombras todos mentem. E isto é relevante porque estamos no período mais difícil do ano, em que se tenta aprovar o Orçamento do Estado (OE) para 2022. O Presidente da República foi o primeiro a gerar vitimização, depois vieram os partidos da direita, depois o Governo e depois ainda os partidos de esquerda. Todos jogam cartadas escondidas e todos jogam com o “mestre” António Costa.

No caso do tema mais caricato e acicatado por alguns grupos de matriz política, e outros mais sindicais, é que exigem a revisão da fiscalidade sobre os combustíveis, depois de anunciarem aos ventos que cerca de 60% do custo do gasóleo e da gasolina corresponde a impostos.

Isto não é novo, e num país altamente dependente de subsídios é necessário ir buscar recursos a algum sítio e o OE já conta com os combustíveis. A alternativa seria ir buscar os mesmos recursos a outros bens ou reduzindo despesa direta em investimento ou em despesas com o pessoal. E, como sabemos, nada disso é viável e os combustíveis, assim como o imobiliário e os bens de consumo, estão “à mão de semear”.

O que não foi correto foi a devolução dos 60 milhões de euros que o Governo fez aos utilizadores de combustíveis, porque é um recurso que será subtraído a outras necessidades. Se, porventura, os 60 milhões de euros servissem para apoio das classes profissionais que usam os veículos diariamente para o respetivo serviço faria sentido, agora apoiar quem simplesmente se desloca de carro e tem alternativas não é correto.

Aliás, quem não está habituado a circular em Lisboa é melhor não ir à cidade porque vai pensar que os combustíveis estão “ao preço da chuva”, tal é o nível de engarrafamentos que encontramos e que está certamente acima do período pré-pandemia.

O que assistimos com buzinadelas por causa dos combustíveis é o recuo para modelos de reação dos anos 80 ou às discussões dos pernis de porco, como aconteceu na Venezuela, mas não estamos numa economia estatizada e, para o bem ou para o mal estamos numa economia de mercado.

Não esqueçamos que combustíveis caros irão ajudar na aceleração para a transição energética e no combate às alterações climáticas.

Ora, o Governo está em negociações com o OE 2022 e não pode sair em confronto. Ninguém sabe se o OE será aprovado, ou não, e para capturar o voto útil, o Governo até faz de conta que ouve o que a esquerda lhe tem para dizer.

É um jogo de sombras, todos mentem e poucos têm a noção das palavras. Discutir a baixa dos impostos nos combustíveis ou discutir o fator de sustentabilidade das reformas é jogar no escuro, na pura mentira, na conversa fácil para o eleitor que não quer saber do país e dos outros, mas apenas e só de um interesse puramente pessoal e egoísta.

Claro que todos querem negociar com o “mestre” António Costa. Todos ameaçam com a hecatombe sem perceber, sobretudo os partidos de esquerda, que se “chumbarem” o OE 2022 irão entregar o país à burocracia, que tomará conta da máquina e não permitirá a aprovação de qualquer projeto.

Se houver eleições em janeiro acentuar-se-á a bipolaridade e tudo irá ficar na mesma. O PS ganhará sem maioria e o PSD ficará um pouco mais forte, enquanto as franjas se irão dissipar. O país, que conta para poucos, ficará mais pobre, com atrasos nas aprovações dos fundos europeus.