Aproxima-se o fim do ano, e com ele vem o escutar os gurus, que nos vão dizer o que podemos esperar para 2022. Ouvir é um exercício a usar com moderação – como disse o outro, 99% dos boatos são mentira. Há, portanto, que separar o trigo do joio, tarefa que é mais fácil depois das coisas acontecerem do que antes. Mas há-as que nos levam logo a desconfiar: se duas coisas variam na mesma direção, o que nos diz que é causalidade e não apenas associação?

Quem gosta do “Living in the Mississipy” de Mark Twain, lembra-se de o autor dizer que é surpreendente o conhecimento que se ganha com um pequeno investimento em factos, e gostará do site. Aprenderá, entre outras pérolas, que há mais de 95% de correlação entre as mortes por afogamento quando se pesca numa canoa e a taxa de casamentos no Kentucky.

Vem isto a propósito do “Lipstick Effect”: quando uma economia atravessa tempos difíceis, há menos dinheiro para despender em bens de luxo. Então, em vez de comprar casacos de pele, compram-se batons caros. É gastar em luxo na mesma, mas menos. E não é que as vendas de batom duplicaram nos dias que se seguiram ao atentado de 11 de setembro e, em 2001, a Estée Lauder reportou vendas recorde de batom? Se quer saber se a situação económica vai melhorar, veja as vendas de batom.

Alan Greenspan usava o “Men’s Underwear Index”: as vendas de boxers e briefs dependem da necessidade, portanto deviam ser regulares ao longo do tempo. Se caem é porque os tempos são difíceis, e recuperam quando se volta ao normal. Logo, veja como estão as compras de cuecas.

Outra alternativa é seguir a produção de embalagens em cartão. Hoje tudo é enviado dentro delas, portanto são um bom indicador avançado das vendas a retalho. E, claro, o consumo de champanhe, a bebida por excelência quando mudamos de emprego para melhor ou ganhamos na lotaria. Estima-se que nos EUA as vendas de champanhe têm uma precisão de mais de 90% na previsão da evolução do rendimento médio das famílias.

Pense, sempre. Mesmo que uma ideia pareça tola, tente perceber se tem mérito. Livre-se dos gurus, que se acreditassem no que dizem, guardavam a coisa para si. Irving Fisher disse em outubro de 1929 que a bolsa tinha atingido um “permanently high plateau”; o resto é história. Samuelson afirmou em 1961 que a economia soviética é a prova de que o planeamento central funciona e é fator de progresso.

Voltando a Greenspan, no seu livro “The Age of Turbulence”, de 2007, vaticinou uma taxa de juro de dois dígitos nos próximos tempos, os nossos! Annalena Baerbock vê uma subida do nível das águas do mar de sete metros até 2100; se mora na Baixa, não deixe a sua casa aos netos, venda-a. Mas, à cautela, faça como recomenda Vicki Conn: nunca se ponha de pé numa canoa, sobretudo se estiver gente a casar-se no Kentucky.