A adesão do Irão, em setembro de 2021, à Organização de Cooperação de Xangai é uma consequência da ostracização a que Washington votou Teerão, nas quatro décadas que nos separam dos trágicos acontecimentos de 1979, na embaixada americana na capital iraniana.
A reconciliação era do interesse de ambas as partes, à semelhança daquilo que tinha ocorrido entre os EUA e o Vietname. Não faltaram oportunidades. A ter acontecido, o Irão seria hoje um parceiro dos EUA, em vez de procurar aliados noutras paragens, associando-se a um projeto euroasiático liderado pela China e pela Rússia.
O envolvimento de ambos os países no Afeganistão proporcionou oportunidades únicas para que essa reconciliação tivesse ocorrido.
Ansiosas por ajudar Washington e mostrar-lhe os benefícios estratégicos da cooperação com o Irão, as autoridades iranianas não hesitaram em disponibilizar-se para cooperar com os EUA na luta contra a Al-Qaeda e os talibãs. Apesar das relações tensas entre os dois países, os iranianos apoiaram as forças americanas com Intelligence, e a Guarda Revolucionária Iraniana cooperou com a CIA e as Forças Especiais americanas no apoio à Aliança do Norte.
Esse apoio não se limitou ao derrube dos talibãs. Na Conferência sobre o Afeganistão realizada em Bona (2001), o Irão não só endossou o governo de Hamid Karzai e o papel intervencionista dos EUA, como foi decisivo nas discussões sobre os arranjos políticos de seguida implementados. Para além de patrocinar a criação de uma Administração Transitória, o Irão exerceu uma influência determinante sobre os vários grupos afegãos, levando-os a aceitar o compromisso político acordado.
Teerão ajudou os EUA a legitimar a intervenção militar e a estabelecer os caminhos de uma ordem pós-talibã no Afeganistão, esperando que o seu comportamento colaborativo pudesse ajudar a resolver o impasse com os EUA. No entanto, isso não aconteceu. Em 29 de janeiro de 2002, no discurso sobre o estado da União, o presidente George W. Bush incluiu o Irão no “eixo do mal”, fazendo tábua rasa de toda a colaboração prestada por Teerão.
Contudo, a hostilidade americana ao Irão não impediu que, em 2003, aquando dos preparativos para invadir o Iraque, Washington batesse novamente à porta de Teerão a pedir ajuda.
Apesar de se opor à guerra, Teerão não criou dificuldades à invasão do Iraque, comportamento que manteve durante a fase de reconstrução que se seguiu ao colapso do exército iraquiano. Instruiu os grupos xiitas iraquianos, que lhe eram próximos, a participarem na reconstrução do país, em vez de resistirem à ocupação americana. Quando teve oportunidade para dificultar a vida aos EUA, Teerão optou por não o fazer.
Os esforços iranianos para agradar aos EUA e minimizar os efeitos da animosidade americana foram inúteis. Washington não mudou a sua postura e continuou a impedir e a minar o reconhecimento internacional do regime iraniano.
A possibilidade de se ultrapassarem experiências negativas do passado e encetar-se um novo capítulo nas relações entre os dois países esfumou-se rapidamente. Washington para além de não responder positivamente aos gestos das autoridades iranianas, também endureceu a sua política, perdendo uma oportunidade única de se reconciliar com Teerão. O resultado dessa política míope está dramaticamente à vista de todos