Segunda-feira 8 de novembro, no âmbito da Comissão de Ambiente da Assembleia da República, rumei a Glasgow para participar na COP26, a Cimeira do Clima da ONU. É daqui que escrevo a primeira entrada deste diário da COP26, o relato de uma ativista ambiental do que se passa naquela que é a Cimeira mais determinante das nossas vidas, ou não fosse a Crise Climática o maior desafio que temos pela frente.

Neste combate, podemos dizer que Portugal deu um importante passo na sexta-feira com a aprovação da Lei de Bases do Clima, na qual o Estado se comprometeu a desenvolver esforços para que a ONU reconheça o “clima estável” como património comum da humanidade. Esta medida, defendida pelo PAN, permitirá que se transite para um paradigma de valor económico de longo prazo, que tenha em conta as melhores escolhas para a humanidade e para o futuro do planeta, e não apenas o lucro a curto prazo.

Contudo, não conseguimos ir tão longe quanto desejaríamos. Na redação da Lei de Bases do Clima continuamos a assistir à falta de ambição e a um total contrassenso: basta ver que foi rejeitado o fim dos subsídios fiscais aos combustíveis fósseis em 2022 proposto pelo PAN, mas na COP26 Portugal assinou um compromisso para deixar de financiar projetos de combustíveis fósseis até, imagine-se, 2022. Afinal de contas, onde está a lógica? Estaremos perante um claro caso de greenwashing? É caso para dizer: ver para crer!

Mas este não é um mal apenas português. Ainda segunda-feira foi anunciado que vários países comprometidos a atingir a neutralidade carbónica até 2050 têm planeados novos furos de gás e de petróleo em 2021 e 2022. É contra este greenwashing e hipocrisia que ontem milhares de pessoas em todo o mundo saíram às ruas para exigirem ações e não apenas proclamações. E é isso que tem de acontecer com os acordos até agora firmados na COP26: terão de sair do papel porque a nossa sobrevivência disso depende.

É o caso do anúncio do acordo que prevê acabar com a desflorestação a nível global até 2030 e reverter os efeitos até aqui causados, nomeadamente na floresta da Amazónia. A proteção das florestas é crucial se queremos ter uma chance de combater as alterações climáticas, mas estamos em total contrarrelógio, uma vez que é destruída, por minuto, a área florestal equivalente a 27 campos de futebol.

Outro acordo merecedor de destaque é o Compromisso Global do Metano, no qual mais de 80 países, incluindo Portugal, se comprometeram a cortar as emissões em 30% até 2030, o que implicará necessariamente um trabalho de proximidade com o setor pecuário que, no nosso país, continua intocável e protegido por um lobby que não pesa as consequências das ações e escolhas de hoje no amanhã.

Aguardo, expectante, os próximos dias em que estarei aqui na COP26, acima de tudo para poder falar com as organizações e ativistas que estão na linha da frente deste combate e que anseiam tomadas de decisão mais ambiciosas, mais honestas e mais justas para todas e todos.