A inflação está de volta e poderá não ser um fenómeno tão transitório como inicialmente muitos pensavam. Nos Estados Unidos, a inflação está nos 6,2%, o valor mais alto em 31 anos, ao passo que no Reino Unido e na Zona Euro está igualmente em níveis que há muito não se viam, com 4,2% e 4,1% em outubro, respetivamente. Será este fenómeno transitório, como espera o Banco Central Europeu (BCE) e a maioria dos economistas, ou podemos estar perante uma situação que pode arrastar-se no tempo e obrigar a uma subida antecipada das taxas de juro?

O primeiro fator a ter em conta é que a subida da inflação se deve sobretudo ao aumento dos preços da energia. Os especialistas esperam que estes preços desçam ao longo do próximo ano, à medida que a atividade económica regressa ao normal. Porém, e se esse velho “normal” nunca mais regressar? Um dos riscos que se colocam, segundo os especialistas, é se as empresas e outros agentes económicos incorporarem nas suas decisões a expectativa de uma subida permanente dos preços, com reflexos nos salários. Isso poderia levar a um efeito de bola de neve.

O segundo aspeto a ter em conta é que a inflação é um imposto escondido que penaliza sobretudo pessoas com menores rendimentos, que veem o seu poder de compra diminuir todos os meses. Este facto não deixa de provocar tensão social, como já está a verificar-se nos Estados Unidos, onde a administração Biden tem sido acusada de estimular ainda mais a subida da inflação com o seu gigantesco pacote de estímulos económicos. A Casa Branca acredita que a prazo os estímulos vão ter o efeito contrário sobre a inflação, ajudando a que os preços estabilizem e regressem ao normal. Mas a natureza humana é uma variável que não pode deixar de ser tida em conta. “A guerra de Biden à inflação é uma batalha para mudar o comportamento humano. O presidente precisa que as pessoas superem uma série de novos medos e direcionem as suas compras para as áreas do sector dos serviços mais afetadas pela pandemia”, escrevia há dias o “Politico”.

Em Portugal, a inflação permanece abaixo da meta de 2% que até recentemente era utilizada pelo BCE, com 1,8% em outubro. Mas somos uma economia pequena, inserida no espaço europeu e altamente endividada. A última coisa de que Portugal precisa é de uma subida agressiva das taxas de juro. A seu favor, o nosso país tem o facto de outros membros da Zona Euro, de maior dimensão e de importância estrutural para a própria sobrevivência do projeto europeu como o conhecemos – como a França e a Itália –, estarem na mesma situação.

No entanto, seja a inflação transitória ou não, as taxas de juro irão naturalmente subir um dia. E importa refletir sobre o que o país tem feito para se preparar para essa eventualidade. A economia continua estagnada (o crescimento em 2021 e 2022 será para recuperar o que se perdeu na pandemia) e o país, com o Estado e as empresas à cabeça, está ainda mais endividado. Não é preciso ser-se um génio das finanças para perceber que esta situação não é sustentável e que só um verdadeiro choque de competitividade, que desbloqueie o crescimento, nos pode salvar do desastre anunciado.