É altura de ganharmos consciência de que algo está profundamente errado na forma como estamos a deixar que aumente a precariedade e a insegurança, vividas pelas gerações mais novas. Uma situação que – para além das questões que se levantam em termos de valores sociais – levou a UNICEF, num relatório de Outubro passado, a avaliar em 390 mil milhões de dólares o impacto negativo na economia global derivado dos efeitos dos diversos transtornos mentais na juventude, a nível mundial.
Divulgado há poucos dias, o estudo “Os jovens em Portugal, hoje”, organizado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos a partir de um inquérito realizado a 4904 pessoas entre os 15 e os 34 anos e coordenado por Laura Sagnier e Alex Morell, evidencia para o caso português um diagnóstico extremamente preocupante, até pelo facto de estender até aos 34 anos a base etária do estudo.
De acordo com as conclusões dos investigadores e tal como divulgado pela comunicação social: “Quase três em cada quatro jovens (72%) recebem menos de 950 euros líquidos por mês. Só uma minoria vive confortavelmente com o que ganha (19%). Cerca de metade tem um contrato instável e já passou por quatro ou cinco empregos, sendo que um quarto (26%) pensa todos os dias em deixar o emprego. Há 14% de desempregados sendo que cerca de um terço já perdeu o emprego depois da pandemia”.
Igualmente preocupante é a quase unanimidade entre os inquiridos, quando admitem sentir que há cada vez menos oportunidades de emprego em Portugal para quem entra no mercado de trabalho, com quase um terço (30%) a evidenciar mesmo a convicção de que irão emigrar. O que, num país como o nosso que sofre de um estrutural problema demográfico, sublinha ainda mais a negatividade deste indicador.
Este quadro de generalizada instabilidade laboral tem de ser enfrentado. Que um quarto dos jovens portugueses confesse já ter pensado ou tentado suicidar-se é algo que não nos deve fazer pensar, deve fazer agir.
É necessário articular as instituições que existem do lado da sociedade civil com as entidades oficiais, no sentido de proporcionar às primeiras mais meios e recursos, se quisermos verdadeiramente enfrentar o problema e dar a devida importância à relação entre a saúde mental e os impactos para a vida futura dos jovens.
Como destacou a ONU, por ocasião do Dia da Saúde Mental em 10 de Outubro passado, metade de todas as doenças mentais começa aos 14 anos mas a maioria dos casos não são devidamente detetados nem tratados. Esta é uma situação que urge ser resolvida, através de novas soluções para os mesmos velhos problemas. É o futuro do país que está em causa.
Esteve muito bem o Presidente da República no seu segundo veto à designada Lei da Eutanásia. O texto emanado da Assembleia da República confundia doenças graves com incuráveis e estas com doenças fatais. Um tema fundamental como o da eliminação da vida humana não deveria ter sido tratado pelos deputados que redigiram o Decreto com tamanha falta de rigor. Sendo contra a eutanásia, congratulo-me que tenha ficado remetida para a próxima legislatura.