Somos um país que dá uma enorme importância às liberdades individuais, e muito bem!
Duas questões, a propósito das vacinas da Covid-19 e da liberdade de cada um, estão na ordem do dia: torná-las obrigatórias e usá-las nas crianças dos 5 aos 12 anos. Os efeitos da vacina não são, pelo menos para mim, ainda claros no que diz respeito ao seu impacto na transmissibilidade.
Já se tornou evidente que fazem diminuir os casos graves e as mortes, mas que não bloqueiam nem a contaminação nem a transmissão. Mas, não bloquear, não significa não diminuir, e essa é, para algumas decisões, a questão central.
A diminuição da gravidade dos casos é suficiente para justificar a vacinação em massa dos adultos, quer por questões de saúde pública e defesa da vida, quer por questões de salvaguarda do SNS e dos custos associados. E, se a gravidade baixar para níveis semelhantes aos da gripe usual, estaremos em condições de retomar a “vida normal”, que nunca foi condicionada por causa da gripe, mesmo quando as urgências hospitalares ficaram saturadas e as mortes, sobretudo dos mais velhos, assumiram números significativos.
A resistência à vacinação, na maior parte dos casos e países associada a uma direita radical, parece-me bastante absurda e com consequências dramáticas, quando atinge valores significativos. Compreende-se que, nesses casos, se equacione a sua obrigatoriedade – o que não é, obviamente, o caso português onde os negacionistas andarão (diz-se) pelos 3 a 4%.
O problema não é, aliás, novo. Nos EUA, onde a resistência é bastante expressiva e desde há algum tempo alimentada pela ala radical do Partido Republicano, o “Scientific American” discutia há uns anos, a propósito da vacina do sarampo – cuja percentagem de recusas começava a atingir valores perigosos que poderiam fazer disparar uma epidemia – se a obrigatoriedade, pela violenta reação que poderia gerar, seria a melhor estratégia vs. uma ação educativa eficaz.
Ora, como é óbvio, no caso da Covid, o limiar pandémico foi há muito ultrapassado e é normal que a questão da obrigatoriedade vs pedagogia se coloque, ou pelo menos a criação de tantas limitações à vida em sociedade aos não vacinados que acabe por se vencer a sua recusa.
Na vacinação das crianças, a meu ver, o elemento crítico para a decisão é efetivamente a transmissibilidade: se, para elas, a doença é raramente grave e ainda mais raramente mortal, parece-me que a sua aplicação só pode ser justificada pela diminuição da transmissão. E sim, neste caso, vacinam-se as crianças para proteger a comunidade.
O número relativo à diminuição da transmissibilidade nos vacinados, é precisamente um dos que me faltam. Esse e outros: qual a percentagem de pessoas, com a vacinação completa que morreram, que estão nos cuidados intensivos, ou pelo menos internadas? Estas estatísticas devem estar na base das decisões de política pública. E se estes dados, forem – como penso que serão – muito expressivos, terão um grande poder de persuasão.
Seria bom que fossem tornados públicos, explicados e comentados. Os dados objetivos ainda têm grande valor e todos lucramos com a maior informação possível.