É necessário adequar a formação dos desempregados às competências requeridas pelas empresas.
No 3º trimestre de 2021, a taxa de desemprego baixou para 6,1%, o nível mais baixo de quase 20 anos, anteriormente registado em 2002. Com isto, ficámos mais próximo do nível inferior da estimativa da taxa natural de desemprego, que, em Portugal, se situa entre os 6% e os 7%. Esta taxa corresponde a um nível mínimo de desemprego, abaixo do qual é muito difícil permanecer de forma sustentada.
No início de 2018, a taxa de desemprego já tinha estado neste intervalo, o que gerou, já na altura, queixas – cada vez mais intensas – das empresas sobre a dificuldade em encontrar mão-de-obra, sobretudo com as qualificações desejadas. Em 2020, com a pandemia, este processo foi interrompido, para regressar nos últimos meses, de novo com acuidade crescente.
Tem que se sublinhar que esta é uma evolução natural e, em certo sentido, até desejável, que corresponde à recuperação plena das recessões anteriores. Aliás, o emprego até já está acima do máximo pré-pandemia, ao contrário do PIB, o que já não é um bom sinal, repetindo o padrão das últimas duas décadas. A economia portuguesa nem se tem portado mal na criação de emprego, mas tem falhado clamorosamente no crescimento da produtividade, do que tem resultado uma estagnação económica, com ramificações em quase todas as outras variáveis, desde a dificuldade de consolidação orçamental ao marasmo do salário médio.
No actual contexto, como deve o próximo governo responder a este desafio? E as empresas? Antes de mais, não se deve tentar baixar a taxa de desemprego estimulando a procura interna, porque a este nível estas políticas já não funcionam, havendo muito maior probabilidade de acabar por induzir um aumento das importações e do défice externo. O que deve ser feito é adequar a formação dos desempregados às competências requeridas pelas empresas. O modelo de “formação” do IEFP precisa de ser profundamente revisto, deixar de ter cursos cuja única utilidade parece ser retirar desempregados das estatísticas.
Em relação às empresas, devem começar por habituar-se que este será próximo do número máximo de trabalhadores disponíveis. As empresas melhores de cada sector devem esforçar-se mais por atraírem trabalhadores das restantes empresas do mesmo sector, contrariando um dos problemas mais bizarros que estudos recentes têm detectado: uma grande disparidade de produtividade dentro da mesma actividade e uma excessiva inércia na selecção natural das mais aptas.
Terão provavelmente que contratar trabalhadores com competências insuficientes e fazer mais formação dentro da própria empresa. Para além disso, faz sentido a adopção de tecnologia que use menos recursos humanos, que é uma das vias de aumento da produtividade. Noutros casos, será necessário reforçar o recurso à imigração, sobretudo em sectores menos apelativos para a mão-de-obra portuguesa. Como é evidente, haverá pressão para subida dos salários, que pode resolver o problema individual de algumas empresas, mas que não elimina o problema agregado da falta de trabalhadores, que é, no cômputo geral, uma boa notícia.