Cada dia que passa aumenta a consciência de que a transição energética é uma inevitabilidade, resultante da vontade política originária sobretudo da Europa mas que tem vindo a ser capaz de arrastar ouras regiões (embora a velocidades diferentes), e de criar e propôr objectivos globais (que muitos consideram excessivos mas que no geral são aceites) para a redução de emissões de gases de efeito de estufa.

A resposta da generalidade das empresas mais directamente ligadas à produção de energia utilizada nos transportes públicos e privados é correspondente com essa vontade política, o que é mais um indicador de que o modelo actual está a entrar numa fase de declínio. Todos os anos mais empresas iniciam processos de redefinição estratégica visando a sua sustentabilidade a médio e longo prazo. Algumas orientaram-se para novos modelos de negócio centrados na economia circular e no incremento do serviço ao consumidor. Outras optaram pela diversificação focada na temática da energia numa orientação mais tecnológica, explorando novas formas de produção e distribuição. Outras procuram alternativas para a captura de CO2. E quase todas iniciaram processos de revisão do seu portfolio de activos, procurando desinvestir em segmentos com menor viabilidade futura. É aí que se assiste ao fecho de centrais a carvão e refinarias de petróleo obsoletas, à redução do investimento em certos segmentos como sejam a pesquisa e produção de petróleo, e ao crescimento das redes de distribuição de energia eléctrica para o segmento automóvel e ao aumento da eficiência dos pontos de abastecimento. Mas é também aí que se assiste ao repensar do nuclear como fonte de produção de energia sem emissões de gases de estufa (embora com outros problemas de poluição) e ao desenvolvimento de novas linhas de negócio.

Não existem dúvidas de que a electricidade terá também um papel cada vez mais importante no sector automóvel, fruto dos fortíssimos investimentos na tecnologia dos motores eléctricos, que são actualmente muito mais eficientes. O investimento na tecnologia relativa ao armazenamento da energia de que esses automóveis necessitam, designadamente das baterias de lítio, tem sido igualmente crescente, resultando em baterias mais eficientes e duradouras, com maior capacidade e dimensão mais reduzida.

Ora, o tema das baterias de lítio para o mercado automóvel tem particular interesse para Portugal, tendo em atenção a existência de importantes reservas mineiras no território nacional. O investimento na exploração dessas reservas naturais será uma óbvia fonte de geração de riqueza, já que irá criar a oportunidade para o aparecimento de empresas, desde mineiras até refinadoras e produtoras e comercializadoras de baterias, que irão directamente empregar muitos trabalhadores e proporcionar o aparecimento de oportunidades para outras que irão suportar a satisfação das necessidades de serviços e produtos de que essas novas empresas irão certamente estar carentes.

Surpreende-me por isso que a reacção inicial a esta (para mim, evidente) oportunidade de crescimento económico tenha sido tão negativa. Mas também me surpreende que os críticos tenham utilizado argumentos assentes numa visão tão pouco sofisticada e tão deficientemente informada sobre a realidade da actual indústria mineira e da regulação a que esta está sujeita em termos tecnológicos e de protecção ambiental. Estou em crer que mais uma vez estamos perante uma reacção baseada numa visão meramente emocional e de curto prazo, fundada no receio mal informado de uma eventual perda de conforto individual no imediato, e que ignora (ou pior, despreza) os benefícios colectivos que podem derivar de um investimento com estas características.

Ou será que Portugal é um país tão rico que possa pura e simplesmente prescindir do aproveitamento ordenado e regulado dos poucos recursos mineiros que tem?