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Bynd Venture Capital: “Fundos estruturais têm papel diminuto no capital de risco da Europa”

Gestora de capital de risco Bynd VC sugere ao Governo: “É importante desburocratizar a criação de empresas em Portugal, para ser muito claro para quem vem de fora e quer investir”.
1 Janeiro 2022, 09h00

A gestora de capital de risco Bynd Venture Capital acredita que a transformação digital e as startups serão pilares da recuperação económica no próximo ano em Portugal. Em entrevista ao Jornal Económico, o sócio e investment manager Tomás Penaguião, diz que a Defined.ai está bem posicionada para ser o oitavo unicórnio com ADN nacional.

Que importância terá a digitalização para a economia portuguesa em 2022?
Eu acredito muito no sector do empreendedorismo como um dos que vão contribuir ativamente para que a digitalização da economia funcione como um pilar de inovação dentro do nosso tecido económico e, portanto, para que seja uma vantagem competitiva clara que podemos construir internamente. Acho que temos todos os ingredientes para isso. Vejo este ecossistema como um que cria emprego altamente qualificado, bem remunerado e com capacidade de atrair talento e investimento internacional. É muito importante continuarmos a apoiar as nossas startups e os investidores, que também têm um papel fundamental na sua dinamização. Ainda há um gap muito grande entre a Europa e Portugal, e também comparativamente aos EUA, em termos do investimento dos fundos de pensões, fundos estruturais, em capital de risco. Nos Estados Unidos esses fundos desempenham um papel bastante importante como LPs (limited partners) e aqui na Europa esse papel é muito diminuto. Ainda há desconfiança face ao risco inerente que este sector pode ter e fecha-se os olhos ao potencial retorno que também pode oferecer. Historicamente, a performance dos fundos de capital de risco até tem sido bastante superior a outro tipo de classes de ativos. Não vejo o porquê de o sector ser esquecido por fundos mais estruturais.

Antevê aumentos no investimento em capital de risco?
A indústria de venture capital (VC) está a atingir e vai atingir recorde de investimento em 2021. Por exemplo, na Europa as perspetivas é de fecharmos o ano com mais de 100 biliões de dólares de investimento, o que representa três vezes o investimento do ano passado. Além disso, notamos uma maior liquidez no mercado a nível de exits [desinvestimentos] quer seja em M&A [fusões e aquisições] quer seja IPO [ofertas públicas iniciais] ou até algumas SPAC [Special Purpose Acquisition Company] que já aconteceram aqui na Europa. Portanto, a tendência de investimento é muito positiva e muito promissora para o futuro.

Portugal ultrapassa países como França e Alemanha em unicórnios per capita. Qual será o próximo?
Há várias empresas portuguesas bem posicionadas para atingir o estatuto de unicórnio, como a Defined.ai. O caminho até chegar lá também tem sido mais rápido por estarmos a viver num cenário económico de liquidez nos mercados, por a pandemia ter acelerado a digitalização da economia e por as empresas digitais terem modelos de negócio mais escaláveis. Neste momento temos sete unicórnios em Portugal. É um indicador importante para o ecossistema, já que põe os olhos de empreendedores e investidores no nosso país, mas o ecossistema de VC e startups não se pode apenas medir pelo número de unicórnios. Há outros dados, como o número de novas empresas criadas, as rondas de capital early stage [fase inicial] que são levantadas… Nesse sentido, o mercado também tem evoluído positivamente. É muito importante haver empresas de dez, 20 ou 50 milhões que podem ainda não ter atingido esse nível, mas que para lá caminham, e que formam a base do ecossistema.

Além dos dados que são conhecidos pelos relatórios, o que o leva a dizer que houve uma evolução positiva no mercado?
Dou o exemplo da Bynd: este ano foi bastante positivo, com cinco exits dentro do nosso universo e com séries A, B ou C das nossas participadas. No nosso primeiro fundo fomos capazes de devolver totalmente o capital investido através do exit parcial de uma numa das nossas participadas, cujo nome não posso revelar. Ainda temos 15 empresas no portefólio que acreditamos que significarão mais-valias para os investidores e vamos fechar o ano com cerca de dez novos investimentos. No ano que passou houve quase uma mudança de mentalidade, de mais pessoas a quererem trabalhar em startups, mais empreendedores a arriscar, mais investidores individuais. Falamos também de grandes empresas, que fizeram uma alteração no mindset e quiseram ter as suas próprias iniciativas e lançar os seus próprios fundos, e de políticas públicas, com uma maior consciencialização de que este sector pode ser diferenciador ou representar uma vantagem competitiva que temos face a outros países.

E captar empreendedores de outros países com ‘e-residency’, que já deveria estar em vigor…
Os dois lados da moeda são importantes: apoiar empreendedores nacionais – acho que essa base já está bastante cimentada a nível de aceleradoras, incubadoras e talento tecnológico nacional competitivo – e criar condições de atratividade para empreendedores e investidores internacionais. Os vistos são uma das medidas, mas há outras. É importante desburocratizar o processo de criação e abertura de empresas e haver um processo muito claro de como fazer. Ou seja, alguém que venha de fora e queira montar aqui a sua startup saiba bem o que está em causa.

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