Em democracia, não há propriamente más alturas para haver eleições, mas este é um contexto muito peculiar. A variante Ómicron, apesar de provavelmente significar uma boa notícia a médio prazo, poderá levar a um aumento considerável da abstenção, seja por receio dos eleitores de serem contaminados, seja porque o número de pessoas que estarão em isolamento arrisca chegar a números colossais.

Se o desfecho destas eleições já seria incerto por natureza, a imprevisibilidade aumentou substancialmente.

O que esperar destas eleições para o futuro de Portugal? Do ponto de vista da imagem externa, seria importante que fosse possível a formação de um governo estável e alinhado com a “Europa”. Dificilmente os resultados permitirão uma maioria absoluta, mas é razoável pensar que Marcelo exigirá um acordo formal, à esquerda, à direita, ou mais provavelmente ao centro, para a formação de governo.

Portugal está tão endividado e dependente dos bons “ofícios” do BCE e da Comissão Europeia que não deveria arriscar um período de instabilidade política prolongada, até porque as taxas de juro ameaçam subir.

No que toca ao desenvolvimento do país, as expectativas são obrigatoriamente baixas. Portugal tem vindo a empobrecer rapidamente em termos relativos, as métricas de produtividade são desapontantes e a dinâmica demográfica é um pesadelo. Portanto, a obra feita da atual classe política e da sua forma de atuar, que tem conduzido os destinos do país e educado sucessivas gerações, não permite estar muito otimista para o futuro.

Há alguma esperança em alguns projetos que têm surgido na política e na sociedade civil, mas a sociedade portuguesa não está aberta a revoluções de mentalidade.

Assim, resignadamente, o meu desejo para estas eleições é que Marcelo consiga atingir o seu objetivo e que, de preferência, cheguem ao Parlamento mais pessoas com ideias diferentes, que coloquem os interesses de Portugal, da liberdade e da livre iniciativa em primeiro lugar.