O ano de 2022 trouxe de volta uma expectativa de sólido regresso à normalidade nas nossas vidas, e esperança de que em Portugal possamos de uma vez por todas seguir em frente. Depois da consolidação do processo de vacinação, mesmo com novas variantes pelo caminho, a realidade é que aprendemos a lidar com a frente sanitária, e o progresso da medicina no que diz respeito a novos tratamentos antivirais (como os da Merck ou da Pfizer) alimenta a expectativa de as restrições dos últimos dois anos poderem, de uma vez por todas, ser menos restritivas.

Esta e erradicação das preocupações com a pandemia poderá ser de crucial importância para Portugal, porque neste momento é necessário colocar a economia nacional a crescer, que como todos sabemos depende em larga medida de sectores muito afetados pela pandemia, como o Turismo e a restauração, citar apenas dois exemplos.

Portugal é, aliás, uma das economias que mais dificuldades está a ter em recuperar para os níveis pré- pandemia, situação à qual não serão alheios os atuais desequilíbrios estruturais que importa resolver durante os próximos anos, aproveitando da melhor forma os apoios financeiros da União Europeia e que podem mudar estruturalmente a economia do país.

Independentemente dos resultados que emergirem das eleições legislativas de final de janeiro, uma coisa é certa. A época da navegação fácil terminou, e Portugal terá mesmo que preparar caminho para crescer. Isto acontece, desde logo, porque as principais economias do mundo já estão a crescer desde 2021. Estados Unidos e China já atingiram o nível pré-pandemia, a União Europeia (UE), como um todo, também estará em breve nesse patamar, um ciclo que pode ser fechado ainda durante o primeiro trimestre do ano, de acordo com a Comissão Europeia.

Ao mesmo tempo, a inflação na UE voltou a subir, passando de território negativo (-0.3%) no final de 2020 para uma leitura de 4,1% em outubro, um máximo desde 1995. Isto reflete, obviamente, uma fase de ajustamento da oferta ao acentuado aumento da procura de bens e serviços, mas é um sinal evidente de que a era das taxas de juro em níveis historicamente baixos poderá ter conhecido o seu fim. Resumindo, vamos começar a ver alguma normalização, sendo que o custo do dinheiro poderá subir, ainda que de forma moderada.

Isto significa o quê, para Portugal? Para o Estado pode significar, por exemplo, que os custos com a dívida pública serão mais altos, e isso pode desequilibrar o défice de forma relevante – sobretudo porque somos um país que acumulou um nível significativo de dívida (135% do PIB em 2020) durante a pandemia. Depois, para os portugueses, sobretudo no que respeita ao que pagam pelo crédito habitação.

De acordo com uma análise da DECO, uma subida moderada de 2% na Euribor pode levar a um aumento de cerca de 30% no valor da prestação mensal devida à entidade financeira – por exemplo, num empréstimo de 150 mil euros, as famílias passam a pagar mais cerca de 150 euros por mês, e isto com um spread conservador de 1%.  Para que este esforço seja comportável para Estado e famílias, Portugal tem não só que crescer por via da recuperação da Europa, como tem que reformar estruturalmente para ganhar a competitividade necessária para crescer de forma mais rápida e mais consistente.

Só o Turismo não é suficiente desta vez, como foi em 2015. De acordo com a ETC – European Travel Comission, apenas em 2024 a atividade turística atingirá o mesmo nível de 2019, pelo que poderá não ser o catalisador que já foi no passado recente. Esta é, pois, uma oportunidade para transformar a economia e a sociedade portuguesa de forma estruturante para as futuras gerações. Uma que possa retirar da espécie de adormecimento reformista em que o país parece ter mergulhado depois de ter saído com sucesso do programa de ajustamento económico já em 2014.