Após dois anos de pandemia, em que o sistema de saúde, com destaque para o SNS, esteve sob uma pressão de que não há memória, este debate tornou-se mais premente. Com o objetivo de contribuir para este debate, neste período de campanha eleitoral, a EY e a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) promoveram recentemente a realização de um survey junto de agentes do setor, incluindo administradores hospitalares, profissionais de saúde e associações representantes dos utentes. Os principais resultados são o ponto forte deste artigo.
Sobre o talento, a retenção e desenvolvimento dos profissionais de saúde é um ponto central, em que são identificados três mecanismos considerados essenciais: rever os modelos de compensação e benefícios dos profissionais do SNS; redefinir o papel de médicos e enfermeiros, revisitando modelos de carreira, formação e retenção; criar mecanismos que deem maior autonomia às unidades de saúde na contratação dos profissionais de que necessitam para cumprir a sua missão. A mensagem é clara: quem está no SNS prefere ver nos programas eleitorais sinais claros de mudança estrutural.
Sobre a governação, considera-se que os partidos políticos devem apresentar a sua visão em matéria de modelo organizativo que defendem para o SNS, incluindo a definição do papel das ARS, assim como o modelo de integração da rede de cuidados de saúde e a definição do papel e prioridades de desenvolvimento do SNS.
No tema do financiamento do SNS, os inquiridos acentuaram a necessidade de clarificar como este irá contribuir para a melhoria da articulação entre cuidados primários e secundários, assim como a ligação entre financiamento e resultados. De salientar a importância atribuída à evolução de uma visão tradicional, em que o financiamento está associado à produção, para uma perspetiva mais centrada no utente, com um modelo de financiamento baseado no valor que é gerado, medido em resultados para a saúde dos utentes.
Quanto ao investimento, a principal prioridade foi atribuída aos investimentos em pessoal médico e de enfermagem, a que se seguiram os investimentos no alargamento e remodelação da rede de cuidados de saúde e em tecnologia e sistemas de informação.
Já no tema da jornada do utente, destacou-se a necessidade de criar uma experiência do utente mais simples e intuitiva, com comunicação efetiva entre utentes, profissionais de saúde e instituições de saúde. Assim como foi considerado relevante conhecer de que forma pensam os partidos reduzir os tempos de espera para consultas, cirurgias e exames, nomeadamente através de articulação com a rede privada e social de cuidados de saúde.
Noutras áreas, o corpo do estudo também deu voz a respostas abertas, em que os participantes tiveram a oportunidade de partilhar as suas perspetivas sobre as prioridades em matéria de saúde, tendo sido abordadas questões como a necessidade de se trabalhar a literacia em saúde, a autonomia das administrações hospitalares, o modelo de nomeação para cargos de liderança no SNS, a articulação com os sectores social e privado, a exclusividade, o SIADAP ou a importância da prevenção da doença.
Para a EY e para a APAH, este survey é um contributo para ajudar a estruturar a discussão e para se ganhar um melhor entendimento do que é importante para os agentes do sector da saúde. O passo seguinte cabe aos partidos políticos, que devem ser claros quanto aos seus projetos e à forma como querem dar resposta aos temas levantados e às necessidades dos utentes. Depois disso, cabe a todos avaliar qual a melhor visão para o futuro da saúde em Portugal e, em consciência, votar.