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FED entra em cena quando a incerteza não é pequena

Os investidores já incorporaram nas suas avaliações todo o potencial de uma recuperação por completo, mais um crescimento robusto dos lucros das empresas.
Chairman da Reserva Federal dos EUA, Jerome H. Powell (AFP)
27 Abril 2021, 11h27

Não obstante o S&P500 ter atingido ontem um novo máximo histórico e os dois outros índices principais de Wall Street estarem perto desse registo, a realidade é que o sentimento sobre os índices norte-americanos se encontra bastante menos definido do que no início do ano.

Desde logo porque, com a fenomenal corrida ascendente desde os mínimos de Março de 2020, os investidores já incorporaram nas suas avaliações todo o potencial de uma recuperação por completo, mais um crescimento robusto dos lucros das empresas, ou seja, o prémio de desempenho que se espera que as empresas venham a ter no futuro já está descontado no preço, o que deixa o mercado num limbo.

Com efeito, os investidores encontram-se entre um cenário de activos com uma avaliação esticada ou mesmo muito elevada, mas por outro lado as opções de investimento continuam a ser quase as mesmas, nomeadamente o sector obrigacionista, que ainda não está no ponto em que é interessante para o regresso do imenso capital que foi redireccionado para outros sectores devido aos juros extremamente baixos. Isto para não falar no facto de que com a compra de activos por parte da Fed a oferta líquida de obrigações é reduzida.

O impacto e dimensão da liquidez injectada pelo banco central dos EUA está bem patente no seu balanço, que atinge já os $7,8 biliões, ou o dobro do que era em Setembro de 2019, sendo que a esmagadora maioria desse montante são obrigações soberanas.

É por isso que todos os detalhes das reuniões da Fed, como a que começa hoje e termina amanhã, quarta-feira, bem como das declarações dos seus membros, são esmiuçados ao pormenor  porque não é uma questão de se os juros vão aumentar, mas quando, e talvez mais importante, quando vai Jerome Powell anunciar uma redução do programa de compras.

Uma sondagem da Bloomberg aos economistas que acompanham o tema indica que antecipam uma mudança da política monetária ainda este ano, mais concretamente no último trimestre, com um eventual pré-anúncio no terceiro trimestre, que poderá dar início à diminuição gradual dos $120 mil milhões mensais constantes do actual programa de compras.

É um tópico que tem de ser gerido com pinças, porque Powell e restantes parceiros sabem que qualquer alteração do statu quo actual da política da Fed vai provocar uma avalanche de volatilidade e quedas no segmento accionista, o que por sua vez pode desencadear um forte travão à recuperação económica.

O gráfico de hoje é da TLT, o time-frame é mensal.

 

Neste gráfico do ETF de um cabaz de obrigações soberanas dos EUA, de maturidade superior a 20 anos, podemos constatar que a forte correcção que se iniciou em Outubro de 2018, e que levou Wall Street para perto de “Bear market”, terminou quando o preço das obrigações começou a subir de novo, com os juros a seguir em sentido inverso. Desde Agosto de 2020, a queda das obrigações fez disparar os juros, que no caso da maturidade a dez anos, mais que triplicaram desde então.

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