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FED mantém rumo mas Wall Street desconfia

Os investidores não ficaram suficientemente convictos de que este dilema entre crescimento e subida dos juros possa ser adiado por muito mais tempo.
Kevin Lamarque/Reuters
29 Abril 2021, 14h03

Desde logo é preciso referir que o trabalho da Fed é, por estes dias, uma verdadeira missão impossível. Conseguir conciliar o inconciliável, que é falar sobre a forte recuperação da economia norte-americana sem melindrar os investidores, receosos de que o caminho da subida dos juros, e principalmente da ausência de compras de activos, esteja ao virar da esquina.

Contudo, e não obstante a elevada volatilidade nos índices, que rodeou o anúncio das conclusões da reunião da Fed, assim como da conferência de Jerome Powell, o sentimento que ficou no ar foi o de ouro sobre azul. Ou seja, o presidente do banco central mais importante do mundo conseguiu transmitir confiança, sem que isso se transformasse num risco para o mercado, pelo menos não no curto-médio prazo.

Com efeito, o facto de terem retirado das declarações da reunião a referência aos riscos consideráveis que a crise de saúde pública coloca à economia, que estavam no documento da reunião de Março, foi um ponto importante de optimismo, que reforçou a avaliação dos membros do board sobre a economia, que está agora bastante mais robusta, nomeadamente no sector do emprego, ponto fulcral na hora de decidirem sobre a política monetária, a par da inflação, que já se sabe deverá ultrapassar os 2%, se bem que por um período curto de tempo – fruto dos estímulos muitos significativos de índole fiscal, que têm um impacto mais visível e imediato, bem como os da componente monetária, que têm suportado a parte da engrenagem relativa ao financiamento, com destaque para a dívida soberana dos EUA.

Para além disso, Powell voltou a repetir que ainda não é tempo para sequer debater uma eventual alteração da política monetária, o que ajudou a tranquilizar o sentimento, no entanto não deixou de dizer que caso a inflação fique acima do nível desejado dos 2% por um período alargado de tempo, então a Fed irá utilizar as “ferramentas que tem ao seu dispor”, não clarificando no entanto essa definição de tempo prolongado. Tal como não especificou, em resposta a uma pergunta, o que seria uma série de dados sobre o emprego para que o tema da recuperação do mercado laboral saia da frente de uma normalização da política.

Apesar deste cenário quase idílico, o certo é que os investidores não ficaram suficientemente convictos de que este dilema entre crescimento e subida dos juros possa ser adiado por muito mais tempo. O confronto entre ambos os temas irá desaguar quase de certeza numa redução dos montantes a adquirir todos os meses pela Fed, pelo que a reacção foi de volatilidade acrescida, com os índices a terminarem no vermelho mas sem expressão, ficando o veredicto final para a sessão de quinta-feira, que costuma ser a que melhor transmite o sentimento do mercado nos dias seguintes a uma reunião da Fed, e não as duas horas remanescentes no próprio dia.

O gráfico de hoje é do Russell 2000, o time-frame é semanal.

 

Enquanto que o S&P500 navega em máximos históricos, o índice das small caps ainda tem de quebrar o canal lateral onde tem estado nas últimas semanas.

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