A invasão da Ucrânia pela Rússia acaba por ser a continuação do resultado “mal amanhado” da Primeira Guerra Mundial, que terminou há pouco mais de um século. Quiseram os dirigentes políticos da altura acabar com os grandes impérios e aquilo que temos agora é a tentativa de reconstrução de alguns desses impérios.
Para contextualizarmos, temos um império que sai formalmente da Segunda Guerra Mundial, que é o Ocidente, com os EUA e os interesses associados, e que resultou na criação de uma nova ordem internacional com a globalização, e um controlo absoluto do globo, de um lado, com os interesses supranacionais da China, Rússia, EUA, Reino Unido e outros. Do outro lado ficaram dois impérios, o russo, que procura reconstruir o território da antiga mãe-Rússia, e o outro, claramente expansionista, que mostra alguns laivos daquilo que quer fazer no imediato, i.e. o império chinês.
No meio de toda a turbulência criada nos últimos dois meses pela Rússia, Xi Jinping, o presidente chinês, esfrega as mãos de contente porque assiste ao teste daquela que será a reação da Europa. E se a reação forem sanções comerciais – algo de que a Rússia e a China se riem desbragadamente –, a China pode de imediato avançar para Taiwan. Com isto se irá desenhar um novo enquadramento e uma nova ordem mundial com três polos, na qual a Europa será o campo de batalha, cabendo-lhe sempre um papel de ator secundário.
Temos ainda de analisar se os atuais atores políticos serão os dignos sucessores do marechal Pétain, do governo de Vichy, ou do idiota Neville Chamberlain. Putin estudou história, mas é um revisionista ao adaptar os factos às suas necessidades. A história atual da Rússia copia a pré-Segunda Guerra Mundial e tal como sucedeu com o chanceler da Alemanha nazi, Hitler, a motivação é doutrinal e sociogeográfica, com a reconstrução do espaço vital para a Alemanha.
A lógica de Putin é a da mentira continuada, nomeadamente com o ensaio da autodefesa perante grupos terroristas. Foi assim, aliás, que os nazis entraram e ocuparam a Polónia. Mais. Importa realçar que, nos dias de hoje, a convergência entre a Rússia e a China é semelhante à que existiu entre Hitler e Estaline. Mas tal como aconteceu há 80 anos, o grande inimigo da Rússia é a China, e a doutrina soviética – relembramos – baseava-se num possível conflito com Pequim.
Recordamos ainda que a tendência expansionista dos chineses é muito mais antiga do que a da própria Rússia e a China, nunca é demais enfatizar, há muito que anunciou a sua vontade de domínio global do planeta.
A grande questão que se coloca à Europa é perceber se irá emergir algum Churchill ou De Gaulle, pois sabemos que nos EUA não há um Roosevelt.
Também importa saber se estamos perante o fim da globalização, das novas doutrinas e da descarbonização e tudo o mais que lhe está associado. Afinal, as verdades de ontem caíram por terra hoje. E, já agora, vamos ficar a saber se o PM António Costa tem a capacidade de nos manter fora disto, como aconteceu nos tempos “da outra senhora”, até porque Lisboa voltou a ser o ponto de encontro de todas as agências de informação mundiais.
Um dos exemplos da nossa importância está no novo embaixador de Israel em Lisboa, jovem e com dinâmica, contrastando com aquilo que servia Lisboa, leia-se embaixadores em final de carreira.