A Europa, ao longo dos últimos 40 a 50 anos, por viver em paz (felizmente) foi acreditando que o mundo se tornaria similar a si, esquecendo o que é a História do mundo e a psicologia das pessoas.
A Europa cultivou-se como o centro do mundo e considerou-se o exemplo que o mundo devia seguir. Considerou-se também como modelo de estabilidade global, em particular pela capacidade de dispor constantemente de estabilidade política, económica e cultural. Augurou, por vezes com alguma sobranceria e superioridade intelectual, pela forma como vivia, tornar-se um referencial de cópia para todo o mundo.
Foi, com base neste princípio, que acreditou piamente numa estratégia de réplica do seu modelo interno através das suas relações externas e comerciais. Acreditou que este princípio de sã convivência com todos aqueles que queriam ter relações económicas consigo seria suficiente para mudanças políticas democráticas, uma vez que seriam os outros a mudar, para clonar tão digno povo, de casta superior e de prosperidade económica e política.
Viu um muro de Berlim e acreditou. Viu a manifestação de Tiananmen e manteve a esperança. Acreditou que, mais cedo ou mais tarde, todos haveriam de se tornar semelhantes a si.
A estratégia seguida era simplesmente manter o statu quo que desejava para si. Se esse era o seu modelo e “os outros” aproximar-se-iam, não deveria ser problema trabalhar com “os outros” em pilares de estabilidade da sua própria sociedade. A Europa passou a investir essencialmente num modelo de serviços, permitindo que aqueles que deveriam ser as suas cópias se ocupassem dos setores infraestruturais: alimentação, energia, comunicações e indústria base.
De repente, a Europa acordou sem chão. De repente, descobre que aqueles que depois de algumas décadas a conviver economicamente e que deveriam estar aculturados politicamente, não estão! E acordou com esses a dominar por dentro os setores primário e secundário (e algum terciário) da sua economia.
E agora?
Enfrenta uma guerra militar mesmo “ali ao lado”, mas não pode enviar sequer o jardineiro, pelo que envia apenas enxadas, tesouras e ancinhos. Enfrenta uma guerra digital, mas apenas pode procurar defender-se com muito esforço humano e pouca capacidade automática. Enfrenta uma guerra de dados, mas consegue apenas segurar uma cópia para si.
Passos imediatos?
Ganhar a guerra militar, em última instância usando armas militares. Investindo rapidamente numa guerra económica global ao agressor, esperando que esse global alinhe de forma contínua. Vai doer muito por vários motivos – humanos, económicos e políticos. E quanto mais prolongada for a guerra, mais difícil será interna e globalmente manter a coesão.
Qual é a esperança em tudo isto?
Que a Europa se reencontre estrategicamente, em todos os setores. Uma Europa com líderes e liderança. Uma Europa com visão e ambição. E que, no futuro, não se esqueça da História do mundo e das sociedades, não confundindo patriotismo com nacionalismo, nem acreditando em fantasias mas sim no pragmatismo.