1. A guerra desenvolve-se na Europa e Portugal, na periferia, não tem políticos que consigam colocar-nos no centro das decisões europeias.

Aliás, a nossa situação (país da NATO) é deveras intrigante, porque temos um Governo em gestão, umas eleições de onde saiu uma maioria absoluta, mas esperamos pelo final de março para se dar posse a um novo Governo numa situação que resultou de um imbróglio com os votos do círculo europeu, algo que já acontecera em eleições anteriores. O Presidente da República (PR) deixou escapar o dia 29 de março como o mais provável para a tomada de posse mas ainda não sabemos, até pode ser em abril. O resultado da votação será conhecido a 25 de março.

Entretanto, o PR foi para Moçambique para mais uma das suas viagens emotivas. Por cá, as notícias não são as melhores perante o aumento exponencial do preço dos combustíveis, prevendo o Governo atenuar o impacto junto das empresas e cidadãos com medidas fiscais agressivas e a antecipação de uma medida relevante, como a extinção do PEC.

Preocupante é o indicador relativo ao Índice de Preços na Produção Industrial (IPPI), que em fevereiro apresentou uma subida homóloga de 20,7% e em janeiro já tinha sido de 17,8%, segundo o INE. As indústrias de moldes, vidreira, cerâmica e panificação vão assim ser fortemente penalizadas. Isto a somar a uma potencial sexta vaga da pandemia e a revisão do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência. Felizmente, para a oposição está tudo bem.

2. A guerra continua mas há factos que merecem relevo. Desde logo, a comunicação que o presidente ucraniano, Zelensky, fez no Congresso norte-americano e onde foi aplaudido de pé. Fez um discurso emotivo e passou a dirigir-se ao “coração” dos cidadãos, tal como Paulo Portas muito bem frisou em comentário na TVI.

Depois, percebeu-se que Putin e os seus acólitos precisam de uma retaguarda de saída e as condições para uma paz anunciadas no “Financial Times” não foram mais do que uma fuga de informação preparada pela Rússia para criar na opinião pública um cenário de quase acordo. A verdade é que os ucranianos reivindicam a totalidade do seu território e, em contrapartida, dão garantias de neutralidade, ou seja, de não adesão à NATO.

Entretanto, continuam a sair diariamente do país dezenas de milhares de cidadãos e todos os países europeus os recebem. Porque será? Porque não existe a mesma disposição perante outras nacionalidades que estão em fuga de teatros de guerra? A resposta está no facto de os ucranianos terem granjeado a simpatia de todo mundo ocidental, mas também no facto de a Ucrânia ser o país na Europa onde estão sediadas algumas empresas do setor aeronáutico, aerospacial, armamento, industrial e agroindustrial e minérios, e que possui as “mentes brilhantes” desse desenvolvimento.

Ora, a Europa ocidental precisa deste know-how. O mais interessante é o que virá a seguir e que será a reconstrução da Ucrânia, com dinheiro da União Europeia e dos EUA, e a potência económica que emergirá da confusão atual.

A Rússia, pelo contrário, poderá ser um problema quando toda a atual oligarquia for substituída. Uma eventual confusão instalada no país não será positiva para o mundo e todas essas fragilidades, a existirem, poderão ser aproveitadas pela China.

E convém ainda não esquecer que há outras potências, como a Índia (o país mais populoso do mundo) e o Irão, que estão em silêncio, e este vale mais do que muitas palavras. Aguardam novos desenvolvimentos para assumirem um novo papel na ordem mundial.