Para maximizar a sua eficácia, deveriam, preferencialmente, cumprir três critérios: 1) prejudicar a Rússia sem fazer grande dano aos países que as impõem; 2) atingir mais a cúpula dirigente russa do que a população deste país. Numa segunda ronda de sanções, deveriam também ter contrapartidas concretas para as evitar.
Em relação ao primeiro critério, julgo que não é necessário grande explicação, já que, pela sua natureza, é suposto as sanções serem um castigo para quem prevarica e não para quem aplica a punição. O segundo critério surge da necessidade de distinguir, de forma clara, entre o governo e a população da Rússia, até porque a falta de democracia deixa a suspeita que uma larga fatia dos habitantes deste país não se revê nos seus governantes. Contudo, se forem muito atingidos pelas sanções, há uma elevada probabilidade de a propaganda interna conseguir culpar o Ocidente pelas suas privações, o que poderia, no curto prazo, aumentar o apoio a Putin.
Neste momento, as sanções constituem uma pena genérica sobre o comportamento do invasor, mas, nem o mais lírico imagina que possam constituir um instrumento eficaz do fim da invasão. No entanto, se as sanções fossem mais específicas, em torno de reivindicações limitadas e concretas, talvez pudessem produzir resultados imediatos e palpáveis.
Consideremos a aplicação destes critérios a apenas dois casos de sanções, o que deverá ser suficiente para os testar. Em primeiro lugar, o congelamento de bens dos oligarcas russos, com claras ligações a Putin. É evidente que cumprem o primeiro critério, de prejudicarem a Rússia, sem impacto significativo no Ocidente. Também cumprem o segundo critério, sendo provável que os russos tenham um grande ressentimento contra esta elite predatória, cuja riqueza é, em larga medida, feita à custa do bem-estar da generalidade da população.
Um outro caso, em discussão, é o da eventual proibição, ou limitação, da importação de produtos energéticos da Rússia. Os EUA já aprovaram a proibição e na Europa ainda se discute o tema, sem decisão, por enquanto. Este é um dos exemplos em que as sanções mais pesadas serão para quem define o castigo, não cumprindo, de forma alguma, o primeiro critério. Também não cumpre o segundo critério, porque irá causar um grave prejuízo à maioria dos russos.
Mas poderiam cumprir o terceiro critério, dependendo da forma como fossem definidas. Imaginemos que a UE definia uma sanção, de, por exemplo, um corte de 50% nas importações de petróleo, durante um mês, caso a Rússia não cumprisse uma determinada exigência. Esta exigência deveria ser definida consultando as autoridades da Ucrânia e poderia ser: a) a criação de “x” corredores humanitários; b) tréguas de “n” dias; c) aceitação da neutralidade de certas “províncias” da Ucrânia; etc.
Sanções definidas nestes termos teriam muito maior probabilidade de produzir efeitos concretos e no curto prazo. Perante contrapartidas razoáveis, Putin teria muito mais dificuldade em culpar o Ocidente pelas sanções e em recusar cumprir o que é pedido.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.