Ficámos a saber esta semana, através de uma nota cirurgicamente colocada na imprensa, concretamente na CNN Portugal, os nomes relativos à composição do Governo.

Causou-nos choque e espanto o facto de termos tido conhecimento dos nomes ao mesmo tempo que o Presidente da República (PR) e pelo mesmo meio. Mas o anúncio do Governo que deu azo à “irritação” do PR, e que este “registou” para mais tarde recordar, é acompanhado por alguma algazarra pelo facto de este ser um Governo em que há mais ministras do que ministros e ter-se o elenco reduzido em cerca de 20%.

A apresentação do Governo é feita em plena crise provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, crise económica e anúncio de uma inflação galopante, ao mesmo tempo que se antecipa uma subida dos juros por parte do BCE. Mais, o anúncio do Governo, já aqui o escrevemos, é feito com muito tempo de atraso, algo que é explicado pela necessidade de voltar às urnas com os votos dos cidadãos que habitam no espaço europeu (e aqui o PS faz a dobradinha e reforça a maioria absoluta, enquanto Rio, o líder do PSD, perdeu um deputado que supostamente já tinha ganho).

E num ambiente de pandemia que continua a crescer, Costa promete um Governo enxuto e curto, mas será assim? Mariana Vieira da Silva fica como nº 2 do Governo, uma espécie de vice-primeira-ministra que terá a tutela da presidência do Conselho de Ministros. Uma ministra poderosa e que não permitirá a ascensão de Pedro Nuno Santos ou Fernando Medina, que ganharam um lugar no Governo.

Fica assim clara a opção de Costa para o futuro do PS e para a sua sucessão, que pode dar-se mais rapidamente do que muitos pensam, já que o lugar europeu pode estar ao virar da esquina.

Costa terá definido muito bem a posição do nº1 e do nº2 no partido, algo que não é novo no cenário governativo nacional. Basta recordar o que aconteceu em 2004 com a saída do então primeiro-ministro Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia, e a opção por Santana Lopes contra a hipótese de Ferreira Leite, então ministra das Finanças e nº 2 do governo.

Ao escolher Mariana Vieira da Silva para nº2, Costa dá um sinal de que nem Medina nem Pedro Nuno Santos poderão aspirar à sua sucessão. Nuno Santos, o homem forte do partido, com apoios de norte a sul e ilhas nas várias federações do PS, repete o lugar de ministro das Infraestruturas, um ministério cheio de problemas, desde a TAP e CP, até às concessões rodoviárias. Medina, por seu lado, vem repescado e volta ao Governo depois de ter sido secretário de Estado e chefe de gabinete de Sócrates, e entra pela porta grande que é o Ministério das Finanças.

Quer num caso, quer no outro são “presentes envenenados”. Caminhamos agora para um cenário de estagflação, subida de juros com impactos negativos nas famílias, subida das prestações dos créditos hipotecários e eventual revisão do PRR. E não nos esqueçamos que Medina foi protagonista da cedência de informações à embaixada russa sobre manifestantes anti-Putin em Lisboa.

Siza Viera, um dos melhores amigos de Costa, sai e regressa ao escritório de advogados Linklaters. Costa Silva é o senhor da Partex e do plano de relançamento da economia nacional. Não tem experiência política e vamos ver se é um sucesso ou um erro de casting. Santos Silva, o recordista dos cargos políticos como ministro, ficará a liderar o parlamento, um lugar que chegou a ser prometido a Edite Estrela.