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Produção de lítio em Portugal desapareceu do programa do Governo

O programa do anterior executivo, divulgado há apenas dois anos, defendia a exploração de lítio e a necessidade de criação de um cluster para o país estar na vanguarda da transição energética e da indústria de baterias para carros elétricos, mas o novo programa não contém qualquer referência ao ‘petróleo branco’ ou ‘ouro branco’. A Galp e uma empresa sueca têm um projeto de 700 milhões para criar uma refinaria de lítio nos próximos anos.
litio
1 Abril 2022, 15h26

Passaram apenas dois anos desde que o Governo de António Costa apresentou o seu anterior programa. Olhando para o documento publicado a 26 de outubro de 2019, o anterior Executivo dedicada um parágrafo ao chamado ‘petróleo branco’ ou ‘ouro branco’ englobado na rubrica “descarbonizar a indústria”.

“Assegurar uma exploração sustentável das reservas de lítio existentes no nosso país, desenvolvendo um cluster em torno deste recurso, que permita dar passos relevantes na escala de transformação, ultrapassando a mera extração e investindo em atividades de maior valor acrescentado no âmbito da indústria de baterias”, pode-se ler no documento do anterior Governo.

No documento hoje publicado com o programa do atual Governo, cuja legislatura dura até 2026, não há uma única referência ao lítio.

A ausência de referências ao lítio é tanto mais curiosa quando há apenas dois meses, o Governo anunciou que a “Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) promovida pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), que sujeitou a análise oito áreas com potencial de existência de lítio, concluiu que em seis delas há condições para avançar”.

Neste documento, o Governo avançava que pretendia avançar ainda este ano com o procedimento concursal para atribuição de direitos de prospeção e de pesquisa de lítio.

“Após o procedimento concursal e a prospeção (a decorrer num prazo máximo de cinco anos), poderá iniciar-se a exploração de lítio, com cada um dos projetos a ser sujeito a Avaliação de Impacto Ambiental”, anunciava então o Governo.

A 24 de novembro de 2021, o anterior ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, defendia a exploração de lítio em Portugal. “O que nos move não é o projeto mineiro. O que nos move é a possibilidade de Portugal desenvolver nas suas fronteiras um novo segmento industrial de alto valor económico e de elevado interesse estratégico, como é o de fabricação de baterias, essencial para o grande objetivo da descarbonização da economia”, disse o ex-ministro, que saiu do cargo ao fim de seis anos e que vai ser agora deputado pelo PS.

O Jornal Económico já pediu um esclarecimento ao ministério do Ambiente sobre esta ausência de referências ao lítio no programa do Governo.

A ausência é ainda mais alarmante quando o ex-ministro do Ambiente disse a 14 de dezembro de 2021 que a refinaria de lítio em Portugal planeada pela Galp  faz mais sentido no norte do que no sul do país.

“A localização a ser escolhida é, naturalmente, pelos empreendedores. Parece fazer mais sentido a norte do que a sul, uma vez que apesar de também este projeto ter que importar lítio para poder funcionar em pleno, naturalmente que a norte parece mais bem localizada do que a sul, e quanto mais no interior do país, melhor. Mas essa é uma questão a que os investidores saberão responder”, disse então João Pedro Matos Fernandes à margem da cerimónia da apresentação da refinaria de lítio que a Galp e os suecos da Northvolt querem construir em Portugal.

João Pedro Matos Fernandes respondia a uma pergunta dos jornalistas sobre se faria mais sentido instalar a refinaria de lítio no concelho de Matosinhos (distrito do Porto), no local da antiga refinaria da Galp em Leça da Palmeira, ou na refinaria petrolífera de Sines, distrito de Setúbal.

A localização no norte do país justifica-se porque a refinaria ficaria assim mais próxima das futuras explorações de lítio e da mina do Barroso, já em exploração, mas que a empresa mineira Savannah pretende ampliar.

Por parte das empresas, segue-se agora um momento de prospeção de local, onde vão ser pesados vários fatores para escolher o local. “Esperamos no prazo de 12 a 18 meses ter todas as informações reunidas para escolher o local final “, disse o co-fundador e presidente executivo da Northvolt no evento de apresentação deste projeto, batizado com o nome de ‘Aurora’.

Paolo Cerruti apontou que no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é apontada a localização de Sines, mas que este local ainda não está fechado, pois as empresas fizeram isto porque tinham que colocar um local na apresentação da candidatura.

Galp e suecos anunciam investimento de 700 milhões em Portugal

A Galp e os suecos da Northvolt anunciaram hoje um investimento de 700 milhões de euros numa refinaria de lítio em Portugal.

Esta central vai ter uma capacidade de produção anual de até 35 mil toneladas de hidróxido de lítio, usado na produção de baterias de ião de lítio para carros elétricos.

A refinaria deverá entrar em produção em 2026, com a previsão de criação de 1.500 postos de trabalho diretos e indiretos. No entanto, a empresa portuguesa destaca que a “decisão final de investimento ainda não ocorreu, mas o consórcio prevê que as operações iniciem até ao final de 2025 e que as operações comerciais tenham início em 2026”.

Esta parceria (50% para cada empresa) visa o “desenvolvimento da maior e mais sustentável fábrica de conversão de lítio da Europa, que se situará em Portugal”, segundo a Galp. O projeto tem o nome ‘Aurora’, inspirado na aurora boreal.

Esta refinaria vai ter a capacidade para produzir hidróxido de lítio suficiente para a produção de 50 GWh de baterias por ano, suficiente para equipar 700 mil veículos elétricos.

No âmbito deste acordo, a Northvolt garante que vai consumir até 50% da capacidade anual desta refinaria para usar no fabrico das suas baterias.

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