O ano de 2022 será um ano de importante transformação para o sector da construção e obras públicas, pleno de importantes desafios que importa continuar a trabalhar para garantir crescimento sustentado.
Apesar de todas as conhecidas condicionantes provocadas pela pandemia da Covid-19, a fileira da construção demonstrou invejável resiliência no ano de 2021 e deu importante contributo para a economia nacional, como demonstram os últimos dados disponíveis.
De acordo com o INE, em 2021, o volume de negócios e o emprego na construção aumentou, respetivamente, 2% e 3% face a 2020, contrariando, em certa medida, o choque provocado pela pandemia.
Ainda assim, os dados preliminares disponíveis apontam para uma trajetória do setor da construção em linha com os padrões do passado, estando fortemente sincronizada com a evolução do PIB.
Face ao contexto europeu, a atividade da construção em Portugal teve uma queda mais atenuada face a congéneres europeus no primeiro trimestre de 2021. Nos dois trimestres seguintes, o índice de produção na construção iniciou uma trajetória de recuperação, não tendo, todavia, alcançado os níveis das principais economias europeias. Ainda assim, a construção nacional evoluiu de forma mais favorável do que economias como a Alemanha (7,6 vs 2,1 no 2º Trimestre; 2,1 vs 1,4 no 3º Trimestre) ou a Espanha (2,1 vs -11,2 no 2º Trimestre). No penúltimo trimestre de 2021, a variação homóloga trimestral superou inclusive a média da UE27.
Em termos de atividade futura, perspetiva-se crescimento acelerado para o ano de 2022 e seguintes, alicerçado na vertente edificável, em face da consolidada competitividade do residencial, logístico e escritórios à escala internacional, e também nos projetos de infraestruturas induzidas pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e Plano Nacional de Investimentos (PNI).
É provável que a escalada nos preços dos materiais continue a verificar-se durante o ano de 2022, até se atingir estabilidade em toda a cadeia de abastecimento, particularmente na vertente de logística. O efeito é tendencialmente temporário, mas gera impactos imediatos na tesouraria e na margem dos contratos em curso, colocando o desafio de os renegociar com sucesso para reequilibrar a margem, particularmente no que se refere a contratação publica.
A recorrente escassez de mão de obra (sobretudo, qualificada) deverá continuar a ser um dos maiores desafios do sector e, talvez, aquele que mais urgentemente importa resolver em face do esperado crescimento do mercado. A revisão das tabelas salariais, a revisão das profissões e categorias profissionais e a conversão dos programas de formação profissional, bem como medidas que facilitem a mobilidade internacional, serão instrumentos relevantes para atrair profissionais nacionais e internacionais, incluindo a captação de mão de obra que se encontra inscrita nos centros de emprego, saindo valorizada e dignificada a perceção dos profissionais do sector.
A transformação digital continuará a moldar a estratégia de longo prazo do sector, que tem assistido à entrada de novos players com abordagens disruptivas, mais agregadoras da cadeia de valor do negócio e alavancadas em tecnologia. O sucesso das empresas do sector dependerá da capacidade de integração das atividades da cadeia de valor do negócio, eliminando custos de distribuição desnecessários, aumentando a produtividade, controlando melhor os prazos de projeto e a qualidade final, alavancando o digital em todos os aspetos das suas operações para maximizarem o conhecimento que pode ser extraído desses dados, permitindo-lhes identificar novas oportunidades e ameaças nas suas cadeias de valor. Neste contexto, investir para renovar os sistemas de informação que permitam consolidar e integrar fluxos de dados, para permitir a transformação digital, será fundamental.
O desafio da sustentabilidade será o que maior transformação e desafios imprimirá ao sector. Desde logo porque os consumidores exigem cada vez mais produtos que sejam sustentáveis, e a estratégia de alocação de capital dos investidores tem privilegiado projetos sustentáveis, condicionando os projetos dos promotores. A tendência levará ao desenvolvimento de novas técnicas de construção, privilegiando a economia circular, massificação de modelos de produção de matriz industrial (ex: construção modular) e com maior incorporação de materiais sustentáveis e recicláveis. O desafio da sustentabilidade deverá ser encarado como uma oportunidade para alcançar uma vantagem competitiva. Construir edifícios e infraestruturas sustentáveis pode revelar-se um diferenciador chave. Neste contexto, é fundamental as empresas do sector articularem uma estratégia ESG (Environmental, Sustainable, Governance).
Resumidamente, em 2022, o sector enfrentará os desafios da sustentabilidade ambiental, da digitalização, da industrialização, da escassez de mão de obra e da pressão sobre os preços, contexto no qual as empresas de construção devem rever e adaptar a sua estratégia para continuar a prosperar numa indústria que está a mudar rapidamente.