As principais bolsas europeias e americanas continuam a bater máximos históricos, contra tudo o que seria de esperar. Com efeito, o surto de gripe que colocou de quarentena cerca de 60 milhões de pessoas, e literalmente parou a segunda maior economia do mundo, deveria ter exercido uma forte pressão sobre as principais bolsas tendo em conta o impacto negativo no crescimento do PIB mundial.
No entanto, a rapidez com que o Banco Central da China respondeu, injectando liquidez no sistema e baixando as taxas de juro, juntamente com os estímulos fiscais implementados pelo governo chinês, como a redução de impostos ou os empréstimos a custo zero durante os próximos oito anos, estão a ter um efeito equivalente a um estímulo orçamental mundial. Ao combater o vírus com dinheiro, a China consegue igualmente a criar uma procura por activos estrangeiros e líquidos, como sejam as acções americanas.
De facto, e apesar da revisão em baixa das estimativas de empresas como a Apple, tendo em conta o significativo impacto na cadeia de abastecimento dos fabricantes de componentes, a liquidez está a falar mais alto e a criar um ambiente de anestesia geral onde a inflação apenas se reflete nos preços dos activos financeiros, que, por sua vez, se traduz numa maior desigualdade social e económica.
Não há dúvida que os principais bancos centrais estão por detrás de uma política concertada de valorização de activos, tendo como desculpa atingir uma meta de inflação, os famigerados 2%, que todos sabem ser impossível de atingir a não ser com elevados défices ou um forte crescimento da economia.
Ora, na Zona Euro não se perspectiva um crescimento económico sustentado, nem mudanças políticas substanciais, com o foco dos decisores a manter-se na criação de mais regulação, que lentamente asfixia a actividade económica. Os políticos, esses, vêem as suas acções branqueadas por um BCE que apenas serve para passar cheques, ajudar a pagar contas de políticas desconcertadas e prejudicar os aforradores, incentivando-os a correr riscos, para além de não cumprir o seu papel como supervisor no combate ao branqueamento de capitais.
Legislar é fácil, os problemas são os de sempre, o operacional e os conflitos de interesse. É por isso tempo de pensar que a Zona Euro poderá não existir dentro de dez anos. O que nos une é cada vez mais superficial e vale cada vez menos, até pela sua maior abundância – a moeda.
Devemos reflectir como pode uma Europa sobreviver quando não temos políticos capazes de criar verdadeiros campeões mundiais. Até ao momento não foram promovidas verdadeiras fusões nas empresas europeias, como nos sectores da aviação, automóvel, gestão e produção de energia, entre outros, para não falar no sector financeiro, que continua a assobiar para o lado e a fazer que conta que está cada vez mais robusto, com taxas de juro negativas.
São esses os políticos que, refugiando-se na defesa do interesse nacional, irão matar o projecto europeu, protegendo os seus interesses e não a Europa.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.