Devagar se vai ao longe, diz o ditado. Mas demasiado devagar não se vai a lado nenhum. A Europa tem estado atrás dos EUA na recuperação económica, e tão cedo não vai alcançar os americanos.

Porquê? A explicação simples é o plano de estímulos de Biden: pôr 1,9 milhões de milhões de dólares nas mãos das famílias não pode deixar de ter consequências. Avançar de seguida com um plano de 4,5 milhões de milhões de despesa pública em infraestruturas, na economia “verde” (v.g., subsidiar a compra de carros elétricos) e em medidas de apoio às famílias, mesmo que espalhadas por vários anos, só pode estimular o investimento.

Em conclusão, no primeiro trimestre deste ano o PIB americano estava perto de antes da crise enquanto na zona euro estava ainda 5,5% abaixo. O objetivo é agora atingir o ritmo de crescimento anterior à crise, enquanto na Europa nos consolamos por estarmos à altura de 2019 no primeiro trimestre de 2022. Ou seja, políticas monetária e fiscal mais agressivas pagam.

Porém, esta parte da história não é tudo. Como não há bela sem senão, os americanos têm aplicado um terço do que receberam em poupança e redução da dívida, que não produzem efeitos enquanto este dinheiro não for efetivamente gasto; e estão a comprar ações “em barda” (em abril, as ações atingiram 40% dos ativos financeiros das famílias, valor nunca visto; o S&P500 já vai no seu 25º recorde este ano).

Quanto aos novos programas de despesa pública, vão ser pagos por aumento de impostos, o que é antecipado por agentes racionais. Ou seja, os EUA tiveram uma quebra de produto de 4,3% em 2020, depois de terem crescido 2,2% em 2019, mesmo assim muito melhor que por cá: em 2020 o PIB caiu 8% em França, 5% na Alemanha, 10,6% em Itália.

Curiosamente, a poupança na Europa tem sido menor: durante a pandemia terá sido poupado 7% do PIB nos EUA, contra apenas 5% na zona euro. Parte desta poupança deve-se ao confinamento, isto é, aos consumidores não conseguirem gastar.

O que vai agora acontecer, quando se desconfina, é uma incógnita, mas os níveis atuais são baixos, pelo que a subida, em termos percentuais, será expressiva. Porém, o nível é muito diferente: o programa de relançamento da Europa é mais modesto (1,85 milhões de milhões de euros até março de 2022), isto quando a economia europeia ainda está a recuperar. E já se fala em retomar o limite dos 3% para o défice orçamental quando se alcançar o PIB de 2019, o chamado “critério quantitativo”.

Portanto, os americanos aplicam os grandes meios e arriscam tudo, depois do fracasso da tentativa de relançamento de Obama, na sequência da crise de 2008; qual o custo a longo prazo e como se fará o unwind do policy mix ousado de Biden, que não é isento de riscos, ninguém sabe. Na Europa aposta-se na moderação e prudência, procurando jogar pelo seguro. Vamos ver se o seguro morre de velho.