Conheço o Carlos Moedas, é uma pessoa simpática, inteligente e que teve um magnífico desempenho enquanto Comissário Europeu.

Por todos estes motivos e mais alguns, a sua entrada na luta pela edilidade lisboeta foi saudada pela esquerda e direita, comentadores reconheceram os seus méritos, teve boa imprensa e foi ungido a candidato que poderia, pelo menos, morder os calcanhares a Medina. Mas isso era por esses dias e o “era” é um tempo verbal do passado.

A partir desse momento, inexplicavelmente, instalou-se o caos e veio sempre a cair vertiginosamente até à sondagem do Novo Semanário que o afundava a 21 pontos do incumbente. Como alguém do PSD me dizia: “nunca vi nada tão fraco, tudo ao nível da campanha da Teresa Leal Coelho”, que foi uma catástrofe e deixou o partido ao nível da irrelevância na cidade.

Ora, se Moedas tinha tudo para ser um bom “campaigner” – também pela sua capacidade de trabalho – porque é que cresce o desapontamento entre os notáveis laranjas e as dúvidas de analistas que lhe auguravam no passado recente uma jornada galvanizadora?

Erros próprios, com certeza, equipa (exceção o Manuel Soares Oliveira que é um bom publicitário) medíocre, ausência de estrategas e especialistas em comunicação política, ignorância sobre a cidade, uma estrutura partidária “liliputiana” e sem dimensão, excesso de pajens, amadores a conviverem com inexperientes.

Em 2001, na vitória mais marcante do PSD em Lisboa (e Moedas não tem ninguém dessa equipa ganhadora para lhe contar e ensinar como se ganha a capital), Santana Lopes tinha a esquerda coligada em torno de João Soares no poder e à direita um forte Paulo Portas que obteve oito por cento.

Ganhou com ideias e não perdeu tempo a namorar partidos mais pequenos. Moedas fez o contrário e sofreu o primeiro revés com a perda da Iniciativa Liberal.

Depois decidiram colocar um homem, que mostrou em Beja quando foi eleito deputado ter boa capacidade para o porta a porta, aprovado pelas elites no “rally” da notoriedade e é fácil avaliar o resultado dos seus medíocres conselheiros: no RAP na SiC um desastre (a Monica Bellucci e o Rainer Werner Fassbinder foram milhares de votos perdidos), na Cristina uma palermice e no 5 para a meia-noite, caricato. A sua equipa não o preparou bem, retirou-lhe valor, apoucou-o.

A sua reputação caiu pela rua da vergonha (como no título do filme do Kenji Mizoguchi, como se eles soubessem quem é) e qualquer especialista em comunicação (coisa que não existe por ali) aconselharia que a reputação é muito mais importante que a notoriedade. Assim, e com tudo o mais que não está a acontecer, estão – se Moedas permitir que este triste espectáculo continue – a transformar um potencial cavalo vencedor no eunuco-mor do reino de Lisboa.

Dizia Margaret Thatcher que “um líder é alguém que sabe o que quer e consegue comunicá-lo”. Porém, ninguém sabe o caminho de Moedas e é impossível comunicar bem o vazio, a insustentável leveza do desconhecimento sobre a cidade. Hoje, é percetível que estaria mais bem preparado para ser candidato a líder do PSD e a primeiro-ministro do que a Lisboa.

Se nada mudar rapidamente, informo Carlos Moedas que o rio que banhará a sua campanha não é o Tejo, mas sim o Flegetonte (poupo o trabalho de irem ao Google os seus pajens incultos e explico que é um rio do Hades, mas eles também não sabem o que é o Hades).

Se o seu resultado for dececionante, é o seu futuro político que pode morrer em outubro. Porque até agora é fácil de resumir a sua campanha numa fórmula matemática: nada+nada=nada.