O mundo parou e o isolamento social veio tornar-se indispensável para travar o inimigo invisível, coronavirus ou covid-19. Estamos todos no mesmo barco, no mesmo país, no mesmo planeta. Todos diferentes, mas agora mais do que nunca todos iguais. Esta paragem e este isolamento coloca-nos desafios a todos os níveis. Pessoal, profissional e mental. Teremos agora de nos preparar para uma nova realidade que vai nascer. O mundo não vai ser certamente igual ao que estava no momento em que isto começou.
Numa visão micro vamos ter de nos adaptar a uma nova realidade de convívio social, de logística familiar, educacional e até mesmo profissional. Estes vão ser desafios de cada um e para cada núcleo familiar. Numa perspetiva mais macro, vamos assistir a uma reorganização geopolítica e económica a nível mundial, que é já inevitável face ao desenvolvimento dos acontecimentos.
O mundo está a mudar, a reajustar-se face a um conjunto de práticas excessivas cometidas no passado, ao nível da economia, da justiça e da política e também do ambiente. No entanto todas estas mudanças (esperemos para melhor) não vão ser fáceis. Iremos enfrentar uma crise financeira com um impacto ainda imensurável, e um difícil reajuste de economias, nomeadamente as mais frágeis.
As empresas e as marcas já estão a reposicionar a sua estratégia de marketing. Se o e-commerce já estava a crescer, agora vai será exponencial. É necessário prosseguir uma aposta no online, mas com a consciência que os ciberperigos e a proteção de dados devem estar sempre na equação e de uma forma consertada.
Os consumidores já estão a procurar soluções neste sentido, mas ainda com algumas reservas em termos de segurança e proteção de dados. Poderão fazer a diferença as marcas e negócios que conseguirem provar uma maior eficácia, transparência e segurança no processo de compra online.
A cadeia de distribuição vai também sofrer alterações na medida em que vão dissipar-se alguns dos intermediários no processo de fornecimento dos produtos até ao consumidor. As lojas físicas poderão também sofrer mudanças na medida em que poderão não precisar de tanto espaço ou até mesmo nalguns casos de existirem. Tudo isto está em processo de mutação e está a levar a uma reorganização estratégica do tecido empresarial.
As empresas têm de repensar rapidamente a sua estratégia digital. Esse será agora o grande desafio nos próximos tempos. Nada será como dantes. Nem mesmo toda esta iniciativa em volta do teletrabalho. Alguns escritórios e empresas estão a aproveitar para testar se este novo modelo de trabalho resulta, até porque em termos de custos fixos pode significar uma redução significativa.
Poderá também haver aqui uma mudança de paradigma, que alguns países europeus falam, com vista a uma melhoria da qualidade de vida, não só em termos de redução de carga horária, mas agora um reajuste entre o trabalho presencial e o teletrabalho a partir de casa. Irá permitir assim uma relação win-win entre a empresa que poupa nos custos, e o colaborador que ganha mais qualidade de vida e passa mais tempo em casa.
Na APSA, Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger, tenho acompanhado de perto o trabalho da excelente equipa de técnicas, que não parou a sua intervenção para com os jovens da Casa Grande. Não deixa de ser peculiar esta situação quando lidamos com autismo, que por um lado nos leva a experienciar melhor o mundo deles, através do confinamento social a que estamos obrigados, por outro lança-nos o desafio difícil de um treino de competência social e autonomia funcional à distância e alicerçado num fator externo antípoda, o isolamento social forçado.
Não é fácil, não vai ser fácil, e todos enfrentamos uma nova realidade nas nossas vidas. Uma dicotomia entre possíveis excessos de convívio social, que de repente foi travado e obrigado a parar, versus recolhimento e confinamento que nos irá permitir olhar para dentro, para aqueles que nos são mais próximos mas que muitas vezes não víamos, não entendíamos ou não sentíamos como devíamos.
Estes são alguns dos desafios que me parecem importantes registar para já e começar a equacionar num futuro próximo, que não vão ser fáceis, pois vamos enfrentar uma crise financeira séria. O conselho que dou a todos é que aproveitem para refletir, poupem ao máximo e mantenham-se calmos. A saúde física e mental está a ser afetada e precisamos todos uns dos outros para ultrapassar esta crise e este estado de emergência com sanidade.
Uma Santa Páscoa para todos e por favor fiquem em casa. Este ano será diferente, mas esta diferença tornar-nos-á mais fortes!